403-O REI DOS PIAUS -História de Pescador

Não era bem um concurso de pesca ou de pescador. Simplesmente uma reunião da turma que gostava de pescar, para contar prosa sobre o maior peixe da minha vida e coisas assim.

— Oia, o maior peixe que pesquei era destamanho. — Diz Biscoito, abrindo os braços finos e longos.

— Lá envém ele de novo! Cê tem retrato? Se num tem, mior pará com essa história.

Biscoito desanima, abaixa os braços e senta-se no banco da praça.

Calimério, um dos mais idosos, começa a narrar seu causo.

— Pois óia, gente, num tenho retrato do piau que pesquei na barra do Turvo, mas tem aqui o Minhoca Seca de prova – e o Tenente também pode falá se tou mentindo.

— Vai, conta logo, Vovô Calimério.

— Vovô é a ... bão, deixa pra lá. Causo seguinte. Nois tava in treis na gamela do Minhoca Seca, pescando umas traíra, uns cará, que pede isca piquena. Nois tava só de farra, num tava a fim de pescá coisa graúda, mesmo porque a água tava baixa, os pesquero sem ceva e os peixe tava mais pra longe, nas parte mais funda da represa. Pois intão, as isca era só pra peixe miúdo. Cumigo tava o Minhoca e o Tenente. Este, ceis sabe, gosta mais é de caçá, purisso onde vai carrega a flobé no tiracolo e uma garrucha infiada na guaiaca, na parte de trás, quase do rego da bunda.

— Oia o respeito — Tenente levanta a voz lá destrás da turma. — Respeito é bão ieu gosto.

— Bão, deixa pra lá. Mais de repente sinto um puxão na linha, puxão de peixe grande. Ora, se a isca é pequena, que peixe é esse? Minhoca, ali do meu lado, viu o puxão e falou: Güenta, que o bicho é dos grandi.

— Foi mesmo, era um piau... — Minhoca Seca confirma a narrativa.

— Peraí, sô. Deixa o Vovô contá — alguém reclama da intervenção.

— Vovô é o raio que o parta! Mas, vortando ao assunto. Era mesmo um piau. Ô pexe esganado! Num iscói isca, bilisca tudo o que vê. Danou a puxá, e eu, aquí, sigurando a vara. Num puxão mais forte de minha parte, o bruto apareceu. Era um piau de mais de dez quilo, destamanho, ó! — e mostrou com os braços e mãos o tamanho do peixe..

— Ara, Vovô, deixa de léro!

— Puis intão, num era? Êta bicho bunito! Briou uns momento cima dágua, as escama faiscando no sor da tarde, eta beleza! Pesava uns deis kilo. Mais eu tava preocupado era cum a vara e cum a linha, que num ia agüentá os tranco do bicho. Puxei mais uma veis, outra veiz ele faiscou incima dágua, Mais afundou de novo. Era forte, o danado. Aí, virei pro Tenente e gritei: Vou puxá mais uma veiz, cê dá um tiro nele. Co rabo dos óio vi quando o Tenente infiou a mão atrás e trouxe a garrucha, já ingatilhada, e falou: Puxa daí qui eu mando bala!

— Meu dedo coçava o gatilho. — Confirmou o Tenente.

— Puis não é que, quando o rei dos piau pulou de novo, pela terceira vez, óia só o que aconteceu. O Tenente — PAM! — deu um tiro certeiro na direção do gigante. Mais o diacho é que ele acertou foi na linha...

Ca-ca-ca-ca...— ouviu-se a risada geral num deboche coletivo.

— Ceis num credita, né mesmo?. Pois este foi o maior peixe que já pesquei na vida. Taí o Tenente que num mi deixa minti.

— Ara, vovô, passa esse piau pra frente!

ANTONIO GOBBO –

Belo Horizonte, 1o. de junho de 2006

Conto # 403 da Série Milistórias

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 08/09/2014
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