O Velório de Marta.

Juca Mulato era um grande homem, com muita coragem e com muita disposição em prestar ajuda humanitária a quem precisasse, principalmente em velórios.

Um dia, faleceu uma senhora que morava perto de sua casa. A morte dela foi rápida e deixou alguns herdeiros.

Por ser uma senhora sem amizades, não convivia com ninguém, nem mesmo os próprios filhos. Era enjoada, implicava com tudo e com todos, xingava motoristas, cobradores de ônibus, gerentes e caixas de bancos, políticos, médicos e principalmente o contador, que fazia seu imposto de renda.

A cada ano que passava, este contador fazia declaração de imposto de renda para pessoas e sempre uma morria por ano. Esta, que faleceu, morreu quando o contador disse que ela pagaria muito imposto de renda, porque tinha pensão alta, recebia muitos aluguéis e ainda era consultora de uma empresa.

Juca Mulato se ofereceu para ficar com a defunta Marta, seu nome.

Não tinha ninguém para o velório. Juca, já precavido, resolveu levar seu novo celular, já que seu filho dera um novo aparelho, colocou música sertaneja e caipira, pois eram suas músicas que ele ouvia todos os dias.

De vez em quanto, chegava alguém. Quando via que era a defunta Marta, ficava um pouquinho e saia rápido, porque de tão ser enjoada, muitos ela tinha magoado ou tinha brigado.

A família pequena, já cansada do início do velório, pediu a Juca Mulato que fizesse a companhia à defunta. Juca foi claro e curto. Meu valor é R$ 100,00, mas como Dona Marta era muito chata, ele cobraria em dose dupla, porque iria levar um cobertor, um travesseiro, um par de chinelos, o fone de ouvido e o novo celular para ouvir suas músicas. A família aceitou.

Em determinado momento, Juca Mulato precisou ir ao banheiro, pois sua barriga estava doendo. Não tinha papel higiênico no banheiro do velório e Juca teve que ir às pressas ao banheiro de sua casa.

O tempo estava nublado. Relâmpagos e trovões surgiam no horizonte. Juca precisava sair, mas não aparecia ninguém para ficar ali. Tomou sua decisão de ir e deixar a defunta ali sozinha e ir ao banheiro de sua casa. Assim o fez.

Começou a chover e quatro homens iam passando pelo local e viram o velório aberto, com luzes acessas e resolveram entrar. Ficaram assustados quando viram a defunta sozinha. Pensaram, vamos esperar a chuva passar e vamos embora. Não conhecemos a defunta, mas vamos ficar aqui.

Choveu muito. O vento soprava forte. A luz da vela apagava e os homens acendiam e diziam que não podia deixar a defunta sem a luz da vela. Apagava, eles acendiam. Assim, por um bom momento.

Um dos homens, meio desconfiado, disse para o outro:

__ Pedro e Tião, a “veia” está mexendo com a boca. Parece que ela quer falar alguma coisa.

__ É besteira sua. Ela está durinha como um pedaço de ferro. Ela está morta, bem morta e não faz nada.

João Mulato havia saído pelos fundos. Quando a dor de barriga melhorou, João saiu depressa, porque aproveitou o momento e deu um cochilada. Chegou de repente e raspando a garganta, tossindo.

Os homens estavam assustados com a cena. Um dizia que Marta estava rindo. Os outros dois não queriam acreditar, mas estavam com medo.

A porta dos fundos ficava na cabeceira do caixão. João chegou rápido, abriu a porta repentinamente e raspando a garganta. Com a pressão do vento da porta, uma pequena linha que segurava a boca da defunta Marta arrebentou e a boca dela abriu, dando a impressão que Marta soltava um grito e uma gargalhada no mesmo instante.

Quando presenciaram a cena, os dois homens saíram correndo e gritando.

O outro, sem voz, paralisado, ficou nos pés do caixão, enquanto os outros dois corriam ele, simplesmente, dizia que...

João assustou e perguntou porque o Chico não correu e Chico respondeu para ele que não correu porque não estava sentido suas pernas, de tanto medo e horror.

JOSÉ CARLOS DE BOM SUCESSO
Enviado por JOSÉ CARLOS DE BOM SUCESSO em 06/09/2014
Código do texto: T4952177
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