= Me contaram =

E eu te conto.

Sem aumentar ou inventar um ponto

Meu amigo Zacarias que contou pra mim

E disse que foi assim...

Na época do sucedido ele morava na Fazenda Ribeirão.

(Só para ilustração, essa fazenda é a mesma onde Mazzaropi filmou algumas locações do filme Casinha Pequenina. Este filme marca a estreia de Tarcísio Meira no cinema, lá pela década de 60).

Distante de Jundiaí uns 15, 20 kms, naquela época era complicado e difícil ir até a cidade. O problema era transporte.

O jeito mais fácil era pegar um ônibus que vinha de Itu e passava só umas três vezes por dia.

Mesmo assim tinham que fazer uma boa caminhada pra virem até a Rod. Marechal Rondon onde o ônibus passava

Vinham por uma trilha no meio de uma mata. Dava um 4 kms de caminhada.

Fim de ano e um dia lá vai Zacarias pra cidade dar um passeio e fazer umas compras.

Entretido com o movimento na cidade só embarca no último horário pra voltar pra casa.

Quando desce no ponto dele, já está escurecendo.

Meio medroso, pois correm comentários que aquela mata à noite é assombrada, Zacarias acelera o passo. Mesmo assim logo está o maior breu no meio da mata. Zacarias vai pelo rumo, agora correndo.

Zacarias tropeça numa raiz e cai um tombaço. Se rala todo.

O pior é que no tombo a sacola de compras se perde toda no matagal ao lado da trilha.

Com medo de assombração e vendo que vai ser impossível achar as compras no escuro, decide por ir embora e voltar no dia seguinte para procurar o que se perdeu.

E assim o fez.

No dia seguinte, mal clareando o dia, volta ao local do “acidente”.

Ainda todo dolorido por causa do tombo.

Em lá chegando ouve um pedacinho de música assim:

Nesse mundo eu chó... Nesse mundo eu chó...

No tombo, um disco de Carlos Galhardo que Zacarias comprara, ficou enroscado numa árvore e conforme o vento balançava os galhos, um espinho tocava no disco e reproduzia esse trechinho de Saudade de Matão.

Por sorte Zacarias encontra todas as compras

Ao voltar pra fazenda ouve um senhor falando para um pessoal:

- Juro proceis, por essa luz que tá me alumiano. Onti à noite lá na mata, quando eu vortava do bar do Nerso, ouvi argo muito istranho. Nem sei bem u qui foi, pois com o cagaço que fiquei, fugi de lá correno! Bem dizem que lá é assombrado.

Nada inventei. Estou vendendo como comprei.

Zacarias quem me contou. E ele nunca foi de mentir.

Nem eu.

= Roberto Coradini {bp} =

06//09//2014