maldita pressa

ALDITA PRESSA

Como as coisas mudaram tão rapidamente, sim, como mudaram apressadamente com uma pressa apressada...

Lembro-me , não faz tanto tempo, para se adquirir uma calça nova tínhamos que esperar uns vinte ou trinta dias para Jurandir alfaiate ou Mário Beltrão fazer uma calça boca-de-sino após tirar as devidas medidas do cidadão. Hoje as lojas se amontoam, Lojão do dez, e outras tantas, que com a PRESSA na confecção de roupas, de tão mal costuradas correm o risco de deixar o usuário pelado em plena praça pública. Para se ir de Arraias a Campos Belos gastavam-se horas e horas de carro, hoje minutos e cada um querendo bater o récord da PRESSA o que vem ceifando diversas vidas. Um frango para ser consumido tinha que ter de oito a dez meses de vida, hoje o coitado é abatido com poucos dias de existência , fazendo-nos ingerir quantidades excessivas de hormônios e outras drogas.Uma carta para a namorada era feita com esmero e capricho e muitas vezes seguia acompanhada de um leve perfume da época, a letra era apresentada com harmônica aparência e a missiva era guardada por anos como um tesouro valioso. Hoje apenas os E-mails relâmpagos são lançados como raios, mas muitas vezes nem são lidos e longe estão de serrem páreos para as velhas missivas. Nos velhos tempos o jovem cortejava a dama por muito tempo até que chegasse o dia de beijar-lhe a mão, nessa noite não dormia de tanta emoção. Hoje saem com a mocinha e quando perguntado como foi o primeiro encontro respondem indiferente : Não é nada sério, apenas FICAMOS!!!. Vulgariza-se o sexo fácil, pela facilidade não lhe dão valor e partem como vampiros sedentos a procura de sangue novo já no outro dia. Nos meus dias para se ver o joelho de uma jovem era muito difícil, hoje anda-se quase sem roupas suprimindo-se a beleza do desconhecido guardado com a vergonha, a inocência e pudor.

Mas não foi por todas as coisas acima que resolvi escrever hoje.Pois não sou o Papa Francisco nem palmatória do mundo, cada um faça como bem lhe aprouver, Foi na verdade por saudade do meu dentista de outrora.

Aqui nesta pequena e bela cidade de Arraias já moraram diversos dentistas como por exemplo, Murillo Timo, Dr.Pedro, Sr.Marciano e Boanerges.

É deste último que vou lhes falar: Boanerges era mineiro, baixo, bem branquinho, cabelo aloirado, fala mansa e calmo de não poder mais. Para que vocês tenham uma ideia da paciência deste senhor ele gastava umas oito horas de ir de Arraias para Campos Belos no seu velho fusquinha l.300.

Pois bem, certo dia eu tava com um dente que não tinha outra solução senão a extração. O consultório de Boanerges ficava colado no bar de Dé. Cheguei,como todo mundo chega, tremendo de medo daqueles alicatãos, do motor e tudo enfim. Falei com toda a reverência:Seu Boanerges quero arrancar um dente que não me deixou dormir esta noite.-Deixa eu ver baiano. Olhou, olhou e disse: quer tirar mesmo o dente?-Quero, respondi. Fez-me sentar a cadeira , passou um pouco de álcool na gengiva , pegou a injeção e deu uma picadinha de leve, guardou a ferramenta e disse-me fica aí quietinho que vou no bar de Dé acabar uma partida de sinuque com o Leonobe. Cuspi, fiquei quietinho e passado bastante tempo o dentista chegou deu outra pontadinha com a injeção dizendo-me:aguarde mais um pouco porque o jogo deu negra e vou disputar para ver quem paga a partida. Tornei cuspir, cochilei na cadeira e quando me assustei Boanerges , depois de disputar a negra , e sem que eu sentisse nadica de dor mostrou-me o dente, perguntando; Quer levar, ou deixa aqui? É por isso que sempre digo:Não se fazem mais dentistas como os de outrora, eficiente e sem PRESSA!!!!!.

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Gerson Aguiar Aguiar, Jonathas Alencar Marques e V