Uma cruz à beira da estrada... (EC)

Há uma cruz depois da encruzilhada, na beira da estrada, na beira do caminho.

Cruz de anjinho, branca, com flores, e cum nome escrito já apagadinho, sim, na beira do caminho.

Oculta na vegetação, depois da curva, detrás da placa, também oculta.

Filha de alguém, não se sabe quem, mas não importa. É de pessoa morta, de morte trágica!

Desponta às vezes no farfalhar das folhas, pelo vento dos caminhões.

Às vezes assusta, perturba, mas na maioria das vezes traz condolências veladas à desconhecida família.

Morte de anjo é sempre triste! E anjinho de cruzinha escondida no mato, é de condoer o coração...

E de coração doído, um transeunte, ciclista, açoitado pelo vento notou a cruz branquinha e agiu:

Catou a foice, a enxada, limpou o mato, capinou em volta, chamando a atenção dos viajantes...

Quem passava, fazia um Sinal da Cruz, num Creio em Deus Pai, sentido! Por ver o que não se via!

O anônimo limpou a cruz, tirou dela cupinzeiro, foi picado por marimbondos, mas não desistiu.

Pendurou nela um terço, rezou um Pai Nosso e uma Ave-Maria também.

Se emocionou, pois ficou bonito.

Tentou ler o nome, não conseguiu, mas escreveu com carvão na cruz assim: “argun arguém anjim”.

Deixava lá seu amor, sua dedicação e seu beijo jogado com as pontas dos dedos acariciando a cruz, da beira do caminho.

Deu antes de se ir, dois passos para trás para admirar a obra; um barulho, uma freada, uma pancada, depois da curva, depois da placa, aos pés da cruz, da beira do caminho, seu corpo foi lançado...

Sem documentos, sem reclamação de corpo, enterrado como indigente.

As pessoas que passavam e viam o desconhecido dedicando um pouco do seu tempo na limpeza e cuidado daquela cruz, tendo sabido do ocorrido, tomaram as providências de colocar ali, uma outra cruz dedicada a tão nobre alma.

Puseram lá flores, para ambas as almas. Acenderam velas, renovaram flores. Penduraram terços. Acharam graça do escrito na cruz. Se riram, mas com respeito. Depois foram embora e nunca mais voltaram...

As flores secaram, o mato cresceu, escondeu as cruzes, a história e esqueceram o ocorrido depois da curva, na estrada, na beira do caminho, depois da encruzilhada. Mas hoje, tempos depois do ocorrido, depois daquela curva, se limpar o mato poderá se ver: De um lado, uma cruz branquinha, com escrito em carvão: “argun arguém anjim”. Ao seu lado, uma cruz mais alta, simples, sem pintura, mas nela escrito: “um ôtro arguém, qui cuidô de mim”. Em carvão, com letrinha infantil...

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Este texto faz parte do Exercício Criativo - Uma cruz à beira da estrada

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Charles Lucevan Rodrigues
Enviado por Charles Lucevan Rodrigues em 11/08/2014
Código do texto: T4918049
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