A lágrima, a jóia e o velho
Ana Laura foi assim, poesia em forma de mulher, ninguém nunca viu,
Não provou, mas se ela falava, era. Pois se acreditava que quando ela
Chorava, suas lágrimas viravam pequenos diamantes, mas apenas quando, as lágrimas eram de tristeza, o choro doído. Como já disse, ninguém viu, mas era, e ainda seria, e talvez ainda seja onde quer que ela esteja. Muita curiosidade se tinha; risos. Pois ela jamais foi mulher de posses. Sua riqueza dizia não se pegava não se via como podia?
Perguntava-se a Ana Laura, se havia no passar dos anos
Guardados muitos diamantes, e qual surpresa, ela dizia que
Sim, apenas três, e de tão guardados eram esses, que no dia
Em que Ana Laura não mais aqui estivesse, as jóias teriam que
Ser dadas a terra, pois ela sempre contava que viemos do pó e
A ele voltaremos. Vontade dela penso eu, mas ela foi ter uma prosa
Com Deus mais de perto, e bem mais rápido do que pensei. E lá foi ela, e nem contou à história que aqueles diamantes continham. Jamais se saberá.
Mas hoje, com a mesma mocidade disfarçada em sorrisos, que tinha ela nesta outra época, descobri que colecionamos pequenas jóias em nossa
Vida. São eles, a família, os amigos e nós mesmos. E como ela, choro por cada um deles, só não saem brilhantes de meus olhos,
Porque hoje
em dia, nada de fantástico acontece. Na minha velha infância, viam-se sacis em roda moinhos; ouvia-se o galopar da mula sem cabeça, e homens ficavam a espreita de ouvir e ver belas sereias. Mas hoje, tento decifrar Smartphones e tantas outras coisas inteligentes, às vezes mais que eu.
Hoje quase chegando aos noventa, imagino qual teria sido a resposta de Ana Laura, talvez dissesse ela, que se chora pela família, pois eles são o que mais próximos de nós teremos em nossa vida, e eles um dia se vão.
Aos amigos, que em cada idade pensam apenas em ser feliz a vida toda, e na minha idade, pensa-se apenas em ter amigos por alguns segundos do dia, e eles também se vão. E nós mesmos, ah esse é o mais difícil, pois jamais partirá, e só damos conta disso, quando não temos mais tempo, só nos amamos mais, quando estamos para nos perder, quando
o limiar da vida e da morte já está lá demarcado em cor forte. E o depois esse ninguém sabe, choro pelo que podia ter sido, e não fui...
Saudades de você Ana Laura, ou simplesmente mãe, onde suas lágrimas caíram que nasçam flores e onde quer que os diamantes tenham se perdido, breve estará de volta, aos seus pés, para que mais uma vez me cante a cantiga de ninar mais singela, e de novo, e de novo, de novo...
Pedro da Rua 15, casa número 2