Aspirante a Bombeiro Hidráulico

Em momentos ímpares de estado de necessidade é que a gente conhece as facetas de um homem desprovido de conhecimento técnico sobre qualquer técnica de trabalho manual para resolver o problema originário desse estado de necessidade.

À luz de João Daniel, sumidade – no sentido de sumir mesmo - nas técnicas relativas a sumir nas horas dos trabalhos manuais corriqueiros, eis que, na ausência de alguém para sanar um problema simples de uma falta d’água, nos ensina a sua técnica peculiar aplicada dia desses, na prática, em momento desesperador...

Passo 1: Como, por diversos dias, a água da rua vinha faltando, de forma a impedir que a sua roupa fosse lavada na máquina, sorrateiramente, colocou nela a roupa, o sabão e o amaciante, um dia antes do lavatório propriamente dito, para não chamar a atenção da água;

Passo 2: Ainda mais sorrateiro, sem chinelos pra não ranger no piso, pé ante pé, desviando das folhas secas, segurando o fôlego, se aproxima da torneira sem que a água perceba a sua chegada e se esconda e, “como um gato: uéééééu!” como diria Tadeu Schmidt, se atira na torneira tão abruptamente, de modo brincalhão, que sai com a metade dela nas mãos, enquanto a água vingativa e assustada se atira sobre ele deixando-o como um gato escaldado “uéééééu!”.

Passo 3: Como um verdadeiro guru com o completo domínio da situação, senta-se meditabundo com as pernas dobradas sobre si, coloca a torneira quebrada do lado, e, recitando um mantra, coloca as palmas das mãos sobre o rombo vazante e, tenta convencer a água a ir embora... “seca torneira, seca torneira, seca torneira....”

Passo 4: Com o mantra sobrepujado pela vontade maior da água esvoaçante, levanta-se calmamente à cata de tudo que couber no encanamento rompido... bucha, pano, palha, cueca velha, toco, taco de sinuca... e vai tentando a sorte com um ou com outro, enfiando tudo no encanamento até a água ser contida...

Passo 5: A força da água rompe tudo e joga toda a tranqueira pro alto fazendo renascer a fonte e levando-o a reaplicar novamente o Passo 3: “seca torneira, seca torneira, seca torneira....”

Passo 6: Contendo o desespero, sobe as escadas correndo, encharcado, tropeçando em alguns degraus à busca da ferramenta certa para resolver o problema de uma vez por todas: Chaaaaaaaaaaaaaarleeeeeeeeeessssss! Socorro pelo amor de Deeeeeeeuuuuusssss!

Passo 7: Notando que o salvador estava dormindo, volta já um pouco mais calmo, tenta recobrar o juízo perfeito e reaplica o Passo 3 na posição de guru: “seca torneira, seca torneira, seca torneira....”

Passo 8: Sobe de novo a escadaria correndo, molhado e tropeçante, pega uma escova de dentes velha, desce correndo a escadaria novamente, molhado e tropeçante novamente, e soca ela inteira no encanamento, batendo com um pedaço de pau ou pedra ou o que for contundente o bastante para que a escova não solte como os trapos anteriores e, tendo solucionado parte do vazamento, senta-se como um guru novamente sobre o vazamento e, com as palmas das mãos sobre o restinho do vazamento e reaplica o passo 3: “seca torneira, seca torneira, seca torneira....”

Passo 9: O Charles acorda e ouve o barulho da água e vai até a lavanderia para lavar sua roupa e, para sua surpresa vê o João Daniel sentado ao chão, tomando banho numa fonte improvisada e recitando um mantra esquisito: “seca torneira, seca torneira, seca torneira....”

- O quê que você está fazendo João?

- Esperando a água ir embora!

- Por quê?

- Fui brincar de surpreender a água e a merda da torneira quebrou na minha mão!

- E porque você não fecha o registro?

- Registro?

- É! o registro.

- E onde é que tem registro aqui?

- Você está sentado em cima dele.

- Onde?

- Debaixo dessa tampa de concreto da caixa de registros onde você está... Aí tem três registros, um deles é o dessa torneira.

Riso embaraçado...

- Tenta abrir a tampa, mas não consegue... pesada demais ou ele sem jeito demais...

O Charles abre a tampa, enfia a mão lá dentro – a caixa já estava cheia da água que nela acumulara - fecha o registro e, bingo, a água para imediatamente de vazar... Melhor que o mantra do João...

O João, admiração pura com a eficiência do milagre, passa a mão nos registros para ter certeza de que eles estão lá e, embasbacado, aprende com o Charles como trocar a torneira, não sem antes comentar: - Se você estivesse viajando esse troço ia ficar vazando até você voltar...

Rs.

Sobe correndo então para ligar a máquina de lavar e, deixa ela lá zoando...

Uma hora depois, a máquina ainda não começou a lavar...

O João, ao constatar com o tato a existência dos registros dentro da caixa inundada, havia fechado todos os demais e, - surpresa! - fechado também o registro da água que ia justamente alimentar a máquina de lavar roupas... resultado: quando ele procurou novamente o Charles que descobriu o problema e abriu esse registro, a água já tinha acabado novamente, impossibilitando a lavagem das roupas, fazendo com que o João recitasse um novo mantra em posição de guru:

- “Volta água, volta água, volta água.”

Charles Lucevan Rodrigues
Enviado por Charles Lucevan Rodrigues em 09/07/2014
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