DIA DE CAÇA
Óia, gente! Eu tenho um causo dos mais verdadero pra contá procêis, inté pur causa de quê eu num sô home de minti.
Um dia, Dexa eu vê se alembro... ah, acunteceu no dia de feverero de 1900... e lá vai pedrada. e é verdade das mais verdadera das verdade. Meu pai gostava muito de pescá mais a minha mãe. Nessa ocasião, êze resorvero levá o degas aqui. Meu pai rumô os petrecho tudo: a porva, a ispuleta, as capanga, a matula de farofa cum carne seca e as ispingarda.
Levantamo dia ainda nem nascido, tumamo café e fumo pro baxo, por causa qui o triêro de cima tava muito sujo de carrapicho. e timbete. Antão, lá fumo nóis, cada um cum sua ispingarda; tava eu ca minha, meu pai ca dele e minha mãe ca dela.
Meu pai lançô mão dum burro troncho que nóis tem, o Jinibaldo, e lá fumo tudo muito inzibido, camim a fora. Condéfé, cheguemo no ponto qui tinha um mata-burro e o Jinibaldo que num era burro de jeito manêra azogô, impacó e não tinha fio de Deus qui rancava ele do lugar.
Meu pai era um caboco paciençoso, mais naquele dia ele eu topei dano no Jinibaldo cum uma vara desse tamanho, ó... Meu pai regaçô o pau no lombo do burro e ele nem tchum. O jeito foi prussigui pur otra banda pur causa do fi duma égua daquele burro!
Meu pai imbicô o Jinibaldo qui loguim impacô dinovo pur causa de um cochete que nóis cunhece pur pega-égua... aí num teve ôtro jeito sinão dexá o burro xinxado num pau de arve e prussigui só nóis trêis.
Imbrenhemo na mata rala e fiquemo pur ali inté o sol baxá pur trais das arve. Mais ainda deu tempo de cada um de nóis caçá uma caça. Foi a premera veiz que eu matei um bicho nessa minha vida.
Já noitinha, peguemo o camim de vorta. Eu matei um viado, meu pai um tucano e minha mãe uma pomba do bano. O triero que peguemo de vorta era meio istreito e cabia só um de cada veiz. Anssim, minha mãe ia cu a pomba na frente, meu pai cu tucano atrais e eu fechava a fila cu viado na cacunda. Inté chegá onde tava o burro xinxado foi um sufrimento só, seu minino!
Quando chegamo no burro, meu pai punhô as caça inrriba dum cupim e foi disatá o burro que tinha massarocado o cabresto no pau de arve. Pensa num caboco infezado da vida... esse era meu pai!
Conde nóis cunsiguiu chegá no rancho, já era noite arta e e fumo disarranjá as coisa inrriba do Jinibaldo... "Cadê as caça, gente?" Iscuitei meu pai gritá.
Isquecemo os bicho no cupim, lá no mei do mato.
Pur causa disso, naquele 30 de feverero de 1900 e antigamente nóis levô quem troxe: Meu pai num pôde cumê a pomba da minha mãe, Minha mãe num pôde apreceiá o tucano do meu pai e o disinfiliz aqui num pôde istrunchá o viado bunito que cacei...
Mais adispois disso, eu inda cumi muito gaiêro nessa vida... Mais aí já é ôtra histora.
Paulo Pazz (com colaboração impagável de Orlanda Alves Paz)