UM PEDIDO DE MÃE
UM PEDIDO DE MÃE
Pelo nome você já pode deduzir que o sujeito é capaz de proezas inacreditáveis. Assim... “meio doido”, Carlim de Zé Maxixe é um conterrâneo brincalhão. Grande imitador do saudoso Papa João Paulo II e protagonista de um dos casos mais amalucados de nossa cidade.
Carlim, mora na Catuaba, um povoado que fica a mais ou menos uns três quilômetros da sede do município de Barra do Mendes no sertão da Bahia. Ao acordar num sábado de folga, sua mãe chega a ele e fala que esta faltando açúcar para adoçar o café e pede para Carlim, pegar a bicicleta, se deslocar aquele pequeno percurso, para comprar no Bar do Seu Lico que ficava na cidade. Ele não mediu esforço, pegou seu veículo de duas rodas e prometeu que em meia hora estaria de volta.
Ao chegar no bar, foi logo pedindo e embrulhando a encomenda, pagando os dois quilos de açúcar de forma apressada. Quando estava preste a sair, chega um desses “amigos” que todos que gostam da “birita” tem, aquele de pé de balcão. Este lhe oferece uma cachaça; Carlim recusa é claro, explica que precisa levar o açúcar para mãe na Catuaba, que ela já esta esperando, que cristão nenhum fazia ele beber naquele dia. O amigo insiste: “só uma meu velho amigo e camarada... depois você vai pra casa” ; Carlos continua respondendo que não, não e não, o sujeito insistindo, até que ele resolve tomar apenas uma.
Alguns minutos depois, já em um Bar que fica no lado do brega da cidade, os dois “grandes amigos” terminam de tomar o segundo litro de cachaça, o grande Carlim não sabia mais onde estava os dois quilos de açúcar. Passa um carro para a cidade vizinha por nome de Ibipeba. Vamos lá ? diz ele para o companheiro... e foram; algumas cervejas depois naquela cidade, ele fica sabendo que tem uma festa muito boa em Irecê, outra cidade um pouco mais distante e que o ônibus já estava de saída. Desta vez quem propõe é o ponderado e responsável amigo. “topa ? “ nem bem ele termina de falar e Carlim já está dentro do veículo.
Em irecê, a farra foi muito boa, porque dinheiro não estava faltando, um tinha vendido um carro velho e o outro estava com o salário do mês todo, neste momento quase todo, nos bolsos. No outro dia de manhã em Irecê, para o azar de Dona Joana Rosa, a mãe de Carlim, que ficou esperando o açúcar lá na Catuaba, eles vão parar na rodoviária, bem na hora que esta saindo um outro ônibus para Feira de Santana. Desta vez quem toma a iniciativa de falar é Carlim: “tem coragem?” Respondeu o outro imediatamente: “só se for agora !”, e foram. De Feira de Santana para mais adiante foi um pulo, porque bêbado não possui noção de espaço e nem de tempo e quase todos são ricos por natureza.
Os dois acordam no Estado de Minas Gerais, depois de ter dormido por 12 horas. Um olha para o outro, ambos sem entender muita coisa, resolvem perguntar ao motorista e ficam sabendo que estão indo para o cidade de São Paulo. O colega resolve perguntar: “ e agora?” “Agora é o jeito,” respondeu Carlim de Zé Maxixe. Chegaram na capital paulista quase duros, tinha sobrado apenas o dinheiro suficiente para o transporte coletivo e alguns lanches. Os dois malucos tinham torrado a grana quase toda nesta empreitada.
Foi o maior sofrimento do mundo para encontrar os parentes para solicitar guarida. Carlim, depois de algum tempo encontrou o irmão que trabalhava num Banco, ficou por lá durante quase três anos, quando resolveu vir embora novamente. Ao retornar a Barra do Mendes, depois de tanto tempo, passou no Bar de Seu Lico, comprou dois quilos de açúcar e partiu para a Catuaba para fazer uma surpresa. Chegando lá entrou de porta adentro e viu a mãe no pé do fogão fazendo um cuscuz, foi logo dizendo com os dois quilos de açúcar nas mãos: “ainda dar para adoçar aquele café?” sua mãe lhe abraçou chorando, porque coração de mãe você já sabe.