porquizôme

porquizôme

(depois da janta) vó, conta aquela história... qual história? aquela... do lobisomem que virava porco... ah, essa tu já conhece, quer que eu conte de novo? ãrrã. tá... diz que uma pessoa, quando quer se transformar em otros bicho, assim, bruxaria, essas coisa, sabe? essa pessoa vai no lugar onde o bicho dorme, seje uma vaca ou um porco ou, assim, um cachorro... e bem dizê, assim, se roça, se esfrega, mesmo, nesse lugar onde o bicho dormiu, seje no campo, ou na palha que o bicho dorme, e quando é lua cheia essa pessoa se transforma nesse bicho daonde ela se roçou. e lá no Cortado, onde nóis morava, tinha um alemão, mas bem esquisito, e diz que esse ôme virava porco de quando em quando. era um lobisômi, só que virava porco. vamo dizê assim um porquizôme... e naquele tempo meu cunhado dormia num quarto, dentro do galpão da casa onde nóis morava. o galpão ficava do outro lado do pátio. quando foi de madrugada, uma noite dessas, ele acordou com sede e foi buscar água nas bacia que ficavam na varanda da casa, do outro lado do pátio. quando ele saiu pro pátio viu um porco enorme, que olhava pra ele e andava ao redor de um cepo que tinha do lado do galpão. um cepo, sabe? era um cepo que uma vez foi um coqueiro enorme que tinha ali, sobrou só as raiz debaixo da terra e um pedaço do tronco, que a gente cortou rente assim pra usar como cepo pra cortar lenha. e o porco olhava pra ele e dava a volta no cepo e arrastava as pata no chão, assim, como touro faz quando tá brabo... tá, vó, mas como é que ele sabia que era o cara, esse, e não um porco qualquer de algum vizinho? ali deredor não tinha ninguém que criava porco, ã-â. e o mais estranho é que desse dia em diante aquele ôme nunca mais olhou nos olhos dele...

Lautaro Mendes
Enviado por Lautaro Mendes em 12/05/2007
Código do texto: T484891