CARINHA DE UM, CARINHA DO OUTRO

Quando eu era criança, morava em interior (zona rural) e havia uma forma de incitar brigas entre a garotada que era fazendo a carinha de um e a carinha do outro no chão, desenhando com o dedo na areia. Quem fosse corajoso para brigar que cuspisse no rosto do outro desenhado no chão. Portanto, um belo dia estávamos eu e meu irmão em uma rodinha de garotos e havia ali um que era do mesmo tamanho dos demais, porém, um pouco mais velho. Ele era conhecido como pai vei e era filho do famoso Valfrido, um homem muito rude e ignorante, que além de bater na esposa com freqüência, um certo dia queria bater um prego de 5 polegadas na cabeça do filho, só não conseguiu porque o senhor Antonio barraqueiro puxou o revolver e disse que atiraria nele se ele fizesse tal coisa. Como o Valfrido sabia que o Antonio barraqueiro era tão louco quanto ele, então desistiu da idéia.

Bem, mas voltando ao assunto da carinha de um, carinha do outro, aquele dia ficou marcado, já fazem aproximadamente uns 28 anos e eu me lembro como se fosse hoje, foi cruel aquele momento. Um dos garotos desenhou no chão a carinha do meu irmão e a do pai vei, que para minha surpresa, meu irmão de repente cuspiu na do pai vei, foi um ato de muita coragem, ou melhor, de pura burrice pois o infeliz do pai vei que estava agachado ao lado, se levantou e mandou um cruzado de direita no queixo do meu irmão que rodou e caiu no chão, ainda um pouco zonzo conseguiu se levantar, mas melhor teria sido para ele continuar deitado, pois o pai vei mandou-lhe outro cruzado novamente no pé do queixo fazendo meu irmão rodopiar e cair quase desacordado, foi preciso uns 2 minutos para conseguir levantar-se, por sorte, o indivíduo não quis bater-lhe mais, pois viu que não teria reação por parte do meu irmão.

Eu, assistindo aquela cena e sem poder fazer nada, já que eu era bem menor que meu irmão, imagina o que ele faria comigo se tentasse tomar as dores do meu irmão? Bem, meu irmão chorando e eu também, fomos embora para casa, ou melhor, para a casa do indivíduo contar para o pai dele, pois como o conhecíamos, sabíamos que faria alguma coisa para punir o filho. Ele na sua imensa estupidez nos escutou e esperou o filho chegar em casa, porém, já com uma chibata de couro na mão que doía só em olhar para ela. Quando o filho chegou em casa logo foi recebido com uma chicotada que a uns 10 km de distância dava para escutar o berro que deu ao receber a chicotada, como éramos vizinhos, ficamos em casa só escutando o coro comer, era nossa vingança. Quanto ao meu irmão, nunca mais quis saber de cuspir na carinha de um, carinha do outro.

Josildo S Neves

Josildo S Neves
Enviado por Josildo S Neves em 17/06/2014
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