A INUSITADA HISTÓRIA DOS TRÊS PORQUINHOS

A criança saudável é tão original, tão espirituosa e verdadeira que muitas delas em tenra idade, ao serem questionadas, podem sair com respostas absolutamente surpreendentes e tão inusitadas, que às vezes nos deixam pasmos.

Certa vez meu filho, com apenas um ano de idade me saiu com uma dessas respostas, tão lógica e ao mesmo tempo tão engraçada que até hoje, aqui em casa, a gente se lembra e ri muito de seu argumento.

Morávamos em Aimorés, Minas Gerais e eu trabalhava, na ocasião em Vitória, no Espírito Santo, só vinha para casa de mês em mês, nas minhas folgas de finais de semanas.

Pois bem, sempre que chegava colocava-o no colo ou deitávamos e contava a ele algumas histórias, aquelas historinhas bobas que toda criança curiosa gosta de ouvir antes de dormir e numa dessas ocasiões, ele disse-me assim:

— Papai conta uma historinha pra eu dormir?

— Está bem, vamos ver, ah, vou contar aquela dos três porquinhos, você conhece?

— Não.

— Quer ouvir?

—Quero, quero sim, ela é bonita?

— Acho que sim, gosto muito dela.

— Então conte.

— Era uma vez, um lobo mau e três porquinhos e narrei a história que todos conhecem...

Quando o Lobo Mau viu os três porquinhos, correu para devorá-los e os três rapidamente fugiram para a casa do primeiro porquinho que se chamava Palhaço, mas o Lobo foi atrás, chegando à casa bateu e pediu para abrirem a porta, mas os porquinhos não quiseram abri-la, então, o Lobo soprou a casa que era de palha, e ela voou pelos ares, quase que o Lobo Mau conseguiu comer os porquinhos, mas eles foram mais espertos e correram para a casa do Palito, o segundo porquinho, mas o danado do lobo foi atrás, chegou pediu para eles abrirem, não quiseram abrir e o Lobo soprou bem forte e a casa que era de palitos, caiu e dessa vez o Lobo Mau chegou até a segurar a perna de um porquinho mas os outros dois ajudaram o irmão e os três correram para a casa do último porquinho que tinha uma casa forte, de pedra e se chamava Pedrico...

— E o Lobo Mau papai, foi atrás de novo?

— Foi, foi sim, ele não desistia de jeito nenhum, pois ele era muito mau...

Chegou à casa do Pedrico, chamou, chamou e eles gritaram lá de dentro:

— Vai embora Lobo bobão, nós não vamos abrir nada...

O Lobo então soprou, soprou e soprou, mas a casa dessa vez não caiu, pois era uma casa muito forte...

— Então papai, o que o lobo fez?

— Ele desistiu e voltou para a floresta, com muita raiva porque não conseguiu pegar nenhum daqueles porquinhos malandros e gostosos para se comer.

O Marcelo observava o tempo todo e ficou encantado realmente com a história, depois acabou dormindo.

No dia seguinte, como de costume retornei ao trabalho. Um mês depois, vim para casa e o Marcelo correndo para meus braços pediu:

— Papai, você conta de novo a história do lobo e dos três porquinhos, pra mim?

—Uai, mas você já não conhece essa história, não acha melhor eu contar outra?

— Eu sei, mas eu gostei muito dela, você pode contar ela de novo pra mim?

— Está bem, mais tarde quando formos dormir, eu conto tá bom?

—Está bem.

Mais tarde, como havia prometido comecei a tal história, mas para avaliar seu raciocínio fiz algumas perguntas básicas. Queria ouvir dele a lógica da história, já que ele estava começando a falar e entender as coisas...

—Vamos lá, tinha o Lobo Mau e os três porquinhos, certo?

—Certo...

— E como se chamavam os três porquinhos?

— Bom, o primeiro era o Palhaço...

— Muito bem é isso mesmo, e o segundo porquinho, como se chamava?

— O segundo era, era...Espera aí...Era...

— Era quem Marcelo?

— Era... Bom, eu sei que tinha o Pedrico

—Sim, isso mesmo o terceiro era o Pedrico, mas e o outro?

— Ah, papai o outro era...Era...

E nada de lembrar o nome e eu perguntei:

— Era quem Marcelo?

— Ah... O outro era. O outro era o “fósso”...

Meu pequeno associou a palavra palito, ao palito de fósforo é claro!

Fui obrigado a dar uma bela gargalhada e abracei meu pequeno filhote e aquelas risadas começadas lá em 1982, permanecem em nossa casa, até hoje!

Marçal Filho
Enviado por Marçal Filho em 12/06/2014
Reeditado em 03/12/2023
Código do texto: T4842260
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.