Quem muito fala...
Ela me dizia que meus amigos não prestavam. Me lembro muito bem das horas e horas de discussão por que eu parei só pra poder dar um oi a eles. Parar pra beber com eles então? Isso era cometer um pecado mortal para com a divindade da paciência que ela dizia ter.
No trabalho eu não podia falar com ninguém. Se descobrisse que eu falei diretamente com qualquer mulher, ainda que, esta fosse minha própria chefe, seria motivo pra quase ser agredido. Me lembro da última briga.
-Filho da puta. Você tá me traindo!
-O que? – Ainda nem tinha entendido o que se passava, mal entrei em casa.
-Não se faz de besta. Já são dois dias que você leva mais tempo pra chegar em casa.
-Mulher, se toca. Eu estava no trânsito. Acompanha tudo, e não vê que estava congestionada a estrada esses dias, por causa da greve dos ferroviários? Obrigando o povo a lotar os ônibus ou ir de carro pra onde quer que seja.
- Não mente pra mim. – Ela falava tentando me atacar com a mão erguida – Eu sei que isso é desculpinha sua. Acha que eu não sei que é fácil pra você me dizer que a culpa é da greve de qualquer caralho de trabalhador e ficar comendo as putas do seu trabalho por aí?
- Ah, para com isso. Eu estou aqui em casa. Te respeito e sempre respeitei. Você sabe tão bem quanto eu que só está comigo porque eu tenho princípios. Nunca te trairia não é nem por você, mas sim porque eu tenho uma consciência que pesaria se fizesse algo que eu julgo errado.
-Essa conversa não cola mais. Você mente pra mim pra ficar com seus amigos. Com certeza eles que tão te mostrando essas vagabundas que você anda colocando esse pau imundo. – Ela ia falando e tentando me bater o que fazia com que as palavras saíssem aos gritos e pausadamente. – Você não me respeita. Você sempre tá com alguém.
-Sempre quando mulher?
-Não me chama assim. Agora é mulher? Sempre foi “amor”, “vida”, “bebê” ... Agora é mulher? Só pode estar de sacanagem comigo. Eu te mato se você me trair. Não esquece. Eu te mato.
-Eu vou fazer o seguinte. Tô saindo dessa casa. Vou embora. Não aguento mais isso. Você me isola do mundo e não posso mais tolerar isso. – Enquanto falava, fui pegando minhas coisas e virando pra porta.
-Nem fodendo que você vai me deixar.
Só tive tempo de ouvir o barulho, depois tudo ficou escuro. Ela me atirou o abajur que ganhamos de casamento, acertando minha cabeça.
Quando acordei, estava no hospital. Ao que parece, os gritos dela alertaram um vizinho que chamou a polícia. Ela, se preocupou apenas em pegar o dinheiro que tinha em casa, algumas roupas e fugir enquanto achava que eu estava morto.
O mais curioso, é que agora eu sei que enquanto eu trabalhava, ela ia foder com o rapaz que entregava o jornal as manhãs. Nas tardes intercaladas entre segunda, quarta e sexta, ela estava fazendo sexo com dois patrulhas do bairro e ao mesmo tempo. Nas terças a tarde ia visitar a amiga. Depois descobri pelo computador que a amiga se chamava Fábio e ela era tratada nas mensagens como a “Melhor chupeteira da região”. Que sorte desse Fábio. Porque eu não recebia nem o direito de uma chupada, na cama comigo ela era uma jovem recatada. Que não fazia absolutamente nada. E cada tentativa de inovação, era visto como algo que aprendi com as “prostitutas do meu trabalho” que segundo ela, eu fodia sempre que podia.
Hoje, eu olho para a casa e fico feliz com o resultado. Mudei todas as cores, mudei a mobília, reformei o quarto. As coisas mudaram, me sinto livre, liberto. Descobri que no meu trabalho eu até tinha algumas garotas interessadas em mim, mas nunca havia reparado. Agora eu já trouxe pelo menos quatro pra apresentar meu novo quarto. Amigos, se reúnem aqui todos os fins de semana, churrasco, cerveja e risadas. Somos tão felizes e com tão pouco.
Ela não se respeitava e queria jogar pra mim isso. Pessoas tem uma lógica única e que eu nunca entenderei. Enfim, nunca mais a vi. Nem penso mais sobre ela estar com alguém ou sozinha. E se, estiver com alguém, apenas tenho pena do pobre desgraçado.