A POTRANCA E AS LEITOAS
O “breganhista” (aquele que fazia barganha) era uma figura muito comum entre os sertanejos. Os serviços bancários, além de muito distantes, eram escassos. Dinheiro vivo também não era comum. Andar com grande quantidade em espécie era arriscado, mais pelos memoráveis pileques do que por ocorrência de roubos. Daí a prática da barganha ou escambo, como queiram. A moeda era a própria mercadoria. Trocava-se uma pela outra. Para se resolver a diferença no valor usava-se a “vorta” (volta). Por exemplo: Dava-se uma porca criadeira em troca de uma marrã e recebia de “vorta” três galinhas. Era assim que se praticava o comércio sem o uso da pecúnia. Bem, o “Causo” de hoje é a respeito dessa folclórica figura. No patrimônio de Roseta, nesse tempo município de Maracai, morava o Zeloureiro famoso “breganhista”. Vivia e sempre viveu das barganhas. Famoso também por suas estripulias e “artes”, quase sempre acompanhado por Zenorato, herói aqui já citado em outro “Causo”. O pessoal da redondeza, sitiantes e trabalhadores na roça, constituía sua clientela. Romualdo da Silva (conhecido como Jinuário pela dificuldade que o caipira tinha de ouvir ou pronunciar o verdadeiro nome), era trabalhador da roça com meu primo “Zearve” que tocava os mais diferentes tipos de lavoura. Era costume de todo trabalhador da roça ter direito a um pequeno pedaço de terra para se fazer um roçado. Ali se plantava milho, arroz, feijão, mandioca etc. Criavam-se pequenos animais. Raramente tinha-se uma vaquinha pra produzir leite pro gasto. No chiqueirão tinha umas “25 cabeças de porco” entre as quais 17 marrãs (leitoas). Romualdo era casado com a Tiabertina (Albertina) irmã única de minha Mãe. Possuía ainda Pilintra, uma potranca nova, baia e muito bonita. Certa feita foi ao patrimônio de Roseta e se engraçou com um cavalão preto da raça manga larga de propriedade do Zeloureiro, já apresentado por nós. A proposta foi feita, não sei por quem, e o negócio foi fechado. Jinuário deu a Pilintra no Manga Larga e uma “vorta” de cinco marrãs. Tempos depois, resolveu “dispor” do Manga Larga e trocou-o por um Pedrêz, um pouco mais velho, mas “bom de lida” e nas ferramentas do trato com a terra. Deu de “vorta” mais 5 marrãs (já foram 10)! Como não tinha serviço, o Pedrez começou a “varar cerca” e incomodar os vizinhos. Partiu pra nova troca. Agora uma “eguona” Pampa muito bonita, “mansa que nem cachorro”, mas também bastante velha, que serviria pras crianças passearem. Deu o “pedrez” agora “dotado da arte de varar cerca” na Pampa e uma volta de mais 5 marrãs (agora já 15). Passados alguns meses e quase sem uso e ainda mais com falta de pasto ( dizem que uma égua come por três cavalos), achou bom fazer negócio com a Pampa. Optou então pela Pilintra, agora já “erada”, mais bonita e mãe de um vistoso potrinho. Negócio fechado. “Vortou” mais duas Marrãs (as últimas, agora já porcas). Tiabertina portadora de um fenomenal censo de humor fez o seguinte Comentário: “... lembra daquelas 17 leitoas que nois tinha? Pois é... o Jinuário deu tudo pro Zeloureiro...” (oldack/25/11/011) Tel. 018 3362 1477.X