Cachorro vai lamber sua boca
Arrumado, daquele jeito, já bem-qui-intortado, dano guinada prus lado e com uma nota de dois conto de réis apenas na cartêra; “Mané Beiçola”, um pé de cana da barriga verde chega nu butiquin da isquina, qui dá acesso ao cemitério de Entrifoia, e arresorve de todo invisti a dinhêrama qui dispunha naquilo qui mais apriciava: Uma meiota da ingasga gato, (e se num tivesse, sirvia arcool mémo, tinha qui pô um trem quarquer na cabeça - dizia qui bibia pa -controlá a trimura). O négoço era mémo a mardita da cachaça, e num teve percupação ninhuma cum tira gosto, nem uma lasquinha de salame.
De imidiato distapô a garrafinha e tomô uma talagada boa, cum tanta sede, qui a mansinha saiu isguinchano prus canto da boca. Isso munto aburreceu ele, pruquê na verldade nunca gostô ispirdiçá o produto, o liquido precioso. Carcô a rôia nu bico, deu um bêjo nu pescoço dessa garrafinha, garrafinha essa de vidro, e guardô cum todo cuidado e zelo no borso. No borso di –dentro da capa de chuva; era pra ninguém vê nem pidí um gole, uma bicada; Chuva essa que pur sinár já tinha diminuído naquela tardizinha de sábado.
O mais ingraçado era o cuidado que “Beiçola” tinha qüéssa garrafinha. Mostrano grande percupação ca -sigurança e proteção do bindito veneno, diveiz incondo curria a mão no lombo dela, como si-ela pricisasse de ser acarinhada; Mais era só pra certificá si-é-tava ali mémo, quietinha e sigura - sem derramá nem vaporá. Mania de pinguço.
Cum praino de ir simbora pra casa saiu; Desceu da porta da venda e tentô ficá a prumo na ponta da carçada, na beradinha. condefé pulô num batente só do resarto pra rua, uns 50 centimetro de artura, como se tivesse podeno ficá impé divera; bateu seco cuns carcanhá no chão duro quinté socô; Quicô mei -qui -disiquilibrado, gangorrô patrais e de banda, mai -foi ino inté qui aprumô dinovo e fiirmô pa-frente duma veiz. Antão cumeçô subir a ladêra iscurregadia du morro do papagaio - morro dus pé-junto - gritano in -berros: Puliça pra mim é garção e sapucaia é hotér... ripitino invoiz arta, dano risada. Andava muncado pa -frente e muncado de fasto, e dizia: Vem cá, “êêche morro tá chubino ó ta descheno”; e vai daqui e vai dali, e de repente viu um sordado cum cacitete na mão caminhano depressa na sua dereção. Mais era visão. Efeito da mardita. Ê -já-tava cum isso na cabeça.
Cum medo di sê arcançado, tentô fiirmá o passo pa-corrê du sordado, mais pisô infarso. A unha du dedão du pé num cunsiguiu travá nu chão qui tava iscurregano munto pr’ele arrancá na disparada, antão, “Beiçola” ispatifa nu barro in-meio as pedras, e táaaa.
Istindido prurriba do cascai ele sente um líquido iscorreno pa –viria abaxo e condo atingiu a coxa ele isfriô e quais dismaiô de aperto... aperto, mai num era do sordado mais não. Ele ficô foi dususperado cum qui imaginava ter acunticido, e tomado prum sôpro de fé, passô agora a rogá, cramano arto, chamano tudo inconto é santo qui cunhicia pra ajudá:
- Santo Antôe, mai-num-pode sê... Ôh São Braiz ansim o sinhô acaba cumigo, sinhô qué me mata né!? - Tumaiz de Aquino cadê o São Roque pa -protegê nóis tudo, mai -principarmente Padrin, a mansinha, guarda ela pra mim São Sinfronio... Oia São Binidito iscuita só, eu prifiro inté qui seja sangue... ahhh, sinhô qué sabê - pó sê sangue mémo - me fura o purmão mais a pinga não Padrin.
Nisso, zonzo gumitô, e condo levantô, cambeta, foi saino e deu qui um cachurrin magro apariô inrriba do gumitado catano as coisinha caída no chão; Ele oiô patrais e apontô o dedo incima e falô ansim: linguiça eu cumi, feijaozin, cumi quiabin, o macarrão e o torreno tamém... mais cachorro ieu num alembrado ter cumido não!!!
Qü'isso lembrô da visão que teve du sordado que num inxistia... aprumô o corpin traveiz e pensô: - ieu qui vô dá um chute nessa sombração! condo sungô a pirninha pa -gurpiá o cachurrin, caiu patrais e drumiu nu cantin da carçada; Foi aí qui sonhô cas- suas printindida tudo, falano: Ôoh Virgina para qüisso muié; Mais Carola é ocê mémo? Concebida, Concebida ansim não minha fia... só acordano nu outro dia, cum sór quente na cara e uma cosquinha doida nu nariz, era a língua do tilzin lambeno inredó da boca dele. O fédamanha du cachurrin farejô donde saiu o mantimento, e acriditano qui Beiçola tava era tratano dele, pur ali ficô, fazeno hora.
Foi daí que nasceu a frase: cuidado pa –cachorro num lambê sua boca!!!
Ouça este causo também abrindo o link abaixo:
http://www.recantodasletras.com.br/audios/humor/60794