Bar Ponto Azul
Tarde quente de outono, o céu sobre as colinas se turva, há de chover quem sabe? E a noite aos poucos de mansinho veio se achegando, fez-se um breu. Conversando na cozinha da velha casa, estavam “Dona Juja” como era conhecida a proprietária da padaria do “Bar Ponto Azul” e mais alguém, versando sobre coisas interessantes ocorridas nos povoados que existem e formam a geografia do Município de Pinhalão. Quando, ela me disse, para prestar bem a atenção, num fato que houvera ocorrido, tantos anos atrás. Das bandas do distrito de Lavrinha, do Lajeado ou talvez do Bairro Decol, sem precisar bem o local.
Só se lembrou ser uma tarde de sol escaldante feito forno de copiosas festas da igreja do arraial. Um homem, de nome que não me lembro, prendado Lavrador, trabalhador e mestre no plantio do feijão, se via suado de tanto se baixar e se levantar na cata dos já secos
pés do produto de valor, das vagens grão a grão, estava muito cansado! Eis que espantado avista, o senhor da roça, sua jovem esposa vindo em sua direção.
- Tem de salvar o nosso filho! Vá e traga lá de Pinhalão, da padaria do “Bar Ponto Azul”, o quente e saboroso pão, desejo repentino desse nosso pobre menino doentio e chorão.
– Como? São trinta e cinco quilômetros desta plantação e, se lá for, perderemos tudo o que colhemos! As nuvens negras indicam temporais em épocas de secas no verão!
Céu escuro, relâmpagos, rajadas de vento e muito trovão já se faziam pelo vale do Rio Cinzas.
– Meu velho trabalhador, desejo de criança não se contesta, por amor a Jesus, Senhor dos senhores, vá agora e já... Não deixe nosso filho morrer!
Abandonando tudo de lado, o labor daquele quente dia, talvez por milagre não chovesse. Desceu a serra, limpou-se da terra e de alazão selado, deixou tudo o que tinha colhido com tanto suor. Ora a galope, ora no trote, ficou para traz sua tapera, percorreu apenas meia légua de caminho e viu que já era o cruzamento da larga estrada Pinhalão à Lavrinha. Pensou, nos trinta quilômetros sem um pingo de mágoa para percorrer. – “Deus é boníssimo, grande, e adivinha a fé do seu servo”, murmurou baixinho e com os olhos cheios de água. Sentindo o peso de tanta idade, dominando seu veloz cavalo... haja estradão!
- Em duas horas e meia, chegarei na cidade!
De repente, e sem que houvesse àquilo, nenhuma explicação, seu alazão empacou e o céu turvo de vez escureceu. Apeou da sela, procela de tantas corridas, guarida do sonho de vida honesta e justa. Bem em sua frente, um pacote na estrada caído, ele se assusta! Em papel de embrulho e contendo destacado o timbre em anil da padaria do “Bar Ponto Azul”. Nele seis pães quentes, cheirosos e bem embrulhados. Envolveu os pães e os levou ao filho seu, salvando ainda, a sua farta colheita. Foi milagre! A tempestade, para o nosso espanto... Não aconteceu!
Valdir Merege Rodrigues
Pinhalão - Paraná