RESPEITO É BOM E EU GOSTO ! /// O ARRASTA A FRANCISCA /// CAUSO
RESPEITO É BOM E EU GOSTO / O ARRASTA A FRANCISCA
De quinze em quinze dias o arraial se preparava para as festas, onde todos os jovens da redondeza se juntavam para conversar, dançar, namorar.
As barraquinhas ofereciam alguns quitutes e refrescos, que eram vendidos e um grande salão tinha sido construído para as danças. Os sanfoneiros chegavam e já começavam a animar o ambiente.
Alguns rapazes vinham de longe para aquela diversão, que, afinal, era a única por ali. Das moças que frequentavam os bailes, Francisca era a que mais se divertia. Os rapazes faziam brincadeiras, gritando um para o outro:
_ Arrasta a Francisca!
E ela não se fazia de rogada. Saía rodopiando com aquele, até outro gritar o mesmo. A cena se repetia durante todo o baile.
Nos primeiros tempos era bem prazeroso pra ela, mas depois, a pobre moça se tornara um joguete.
Mesmo se estivesse indisposta em algum momento da festa, ela tinha que rodar na pista com o parceiro da hora. Já não tinha vontade própria naquele particular.
Isso, até o dia em que chegou àquele lugar um caixeiro-viajante, o Jorge. Ao vê-la quando fazia uma entrega na casa em que Francisca trabalhava, encantou-se por aquela figura. Era uma morena de olhos negros e vivos e um sorriso que enfeitava o rosto.
Conversaram e ela o convidou para o baile do fim de semana. Enquanto não chegava o dia, eles iam se encontrando. E o Jorge, cada vez mais interessado. Ela também.
Chegaram à festa. Música alegre, os pares dançando e Francisca, comportada junto ao novato no ambiente. De repente, ouve-se o grito de sempre:
_ Arrasta a Francisca!
_ Que é isso?- perguntou o namorado.
_ É comigo.,. disse Francisca, meio sem jeito.
_ Arrasta a Francisca! E o sujeito veio se aproximando do casal, até que recuou, intimidado pelo salto de Jorge. Postado no meio do salão, voz firme e uma faca na mão, riscando o ar, gritou:
_ A partir de hoje, ninguém mais arrasta a Francisca aqui. Que ninguém se atreva! Ai dele!
Acabou-se o tempo do “arrasta Francisca”.
E foi assim que depois de um ano, Jorge e Francisca se casaram e ninguém ousava faltar-lhes com o respeito.
E então, toda vez que vejo alguém massacrando (em qualquer sentido) um fraco, indefeso ou impotente, sinto como é preciso fazer ecoar o grito de defesa aos oprimidos. Erguer a voz em favor dos amordaçados. Sim. Fazer ecoar o grito de libertação: “O tempo do arrasta Francisca acabou aqui!”
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