Bichinho do mato

Mário era o mais novo daquela enorme família. Tinha irmãos até adultos quando nasceu naquela casinha lá no meio da roça. Tudo muito simples, mas tão limpinho, arrumadinho que dava gosto de estar lá.

O menino acostumou-se em brincar sozinho já que os irmãos trabalhavam ou estavam na escola. E ficava horas fazendo boizinhos de batata ou chuchu, correndo atrás das galinhas ou atrapalhando a mãe fazer o serviço doméstico. Ele adorava aquilo tudo lá só não gostava de ... Gente.

Não era bem as pessoas que Mário não gostava, ele tinha pavor de certo tipo de pessoas que a mãe chamava de visita. Era ouvir essa palavra e lá ia o menino pra debaixo da cama.

Ver o filho se escondendo era a vergonha de Dona Darci. Ela tinha vontade de bater no menino... E batia, mas depois que as visitas iam embora. E pergunte se Mário se importava de apanhar... Nada! O que eram umas chineladas perto das terríveis visitas? Aquele povo estranho que não parava de falar. Aquelas comparações e toda vez ouvir o quanto ele estava grande ou parecido com alguém da família. Ele morria de vergonha. Ficava vermelho como um pimentão e odiava aquilo mais que qualquer coisa na face da Terra.

Ele era tão tímido que só de ouvir a voz dos estranhos enfiava debaixo da cama, mas a mãe encheu de caixas lá para o menininho não se esconder. O guarda roupa agora começou a ser trancado a chaves e os quartos também. Dona Darci faria ele enfrentar as visitas na marra.

Nada adiantou, ele aprendeu a pular as janelas e se esconder no mato. As visitas se iam e eram horas e horas da mãe,do pai e dos irmãos procurarem ele no meio das plantações ou da mata.

Dona Darcy muito preocupada agora com essas sumidas para o meio do mato não sabia mais o que fazer até que lembrou do que ela tinha mais medo quando criança... Aí vieram as histórias de assombração... Aquelas que se contam a noite a beira do fogão de lenha. Os olhos do pequeno Mário pareciam saltar do rosto. A mãe vinha o medo nítido na cara do menino e aumentava mais as histórias para ver se ele parava de se esconder das visitas.

Naquele dia na hora de dormir o menino enrolado na colcha de retalhos cobria a cabeça enquanto a mãe rezava com os irmãos. Quando sentiu a mãe se aproximar de sua cama ele mostrou os olhinhos arregalados e disse:

- Sabe mamãe eu morri de medo das sombração.

- E tem que ter muito medo mesmo fi...Elas são um demo de feia! Elas não gostam dos menino pequeno que nem ocê.

- Pois é mamãe... Eu até tenho medo dela mas como tenho mais vergonha das visita ... Tava pensando aqui vou pegar um porrete amanhã e vou bater nessa sombranção tudim... Quero só vê elas vim aqui ...