POBRE É FILHO DE RATO QUE NASCE PELADO

- Ôooo D. Janeeete! Aquela pobre tá aí de novo... acho que veio buscar as roupas...

Esta foi a frase que Maria ouviu quando chamava no portão da casa, para buscar a roupa.

Era uma lavadeira que naqueles idos dos anos 60-70 tinha esta como única alternativa para criar os filhos.

Ficou indignada com a expressão, ainda mais que a ouvira da empregada da casa, pessoa tão “pobre” quanto ela.

Maria criava os seis filhos sozinha, com muita dignidade, depois que o marido morrera com cirrose, depois de tanto beber.

E a outra repetia:

- Dona Janeeete, está aqui aquela pobre coitada que vem buscar a roupa.

Aquilo lhe soava como pejorativo, ainda mais vindo de uma pessoa da mesma classe social.

Maria sentia preconceito na referência que a outra fazia de si. Pensando nisto, sentia-se ultrajada porque se sentia uma trabalhadora, com tanta dignidade quanto a outra, só porque aquela usava uniforme e ela não.

Maria não sabia fazer outra coisa. Sempre fora lavadeira e ia nas casas buscar as roupas e as trazia lavadas, dobradas e passadas. Na sua época as mulheres não tinham muitas alternativas, poucas trabalhavam fora, no máximo, trabalhavam no comércio. A maioria ou era doméstica ou lavadeira. Havia ainda as que não saiam de casa: as costureiras. Sua avó não fora costureira, mas uma bordadeira e também ia nas casas buscar e entregar os bordados que fazia.

Percebia que pobre não gosta de pobre, e repetia isto para si mesma, não sem antes gritar indignada para a outra:

- Pobre? Pobre é filho de rato que nasce pelado!

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28.03.14

MARIO ROGERIO FEIJO
Enviado por MARIO ROGERIO FEIJO em 28/03/2014
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