CORPO FECHADO ou ILUSÃO DE ÓTICA

Não raro, a natureza nos tem brindado com situações de inusitada originalidade, que nos leva a análises e estudos que nem sempre aportam em conclusões pacíficas e universais, dados os diversos prismas sob os quais podem ser interpretadas. Ora sob o aspecto místico, ora sob o aspecto físico, filosófico, imaginário ou realista, tais situações sempre têm merecido destaque, mormente quando se apresentam como integrantes do vasto campo pasmoso do conhecimento humano.
A ilustrar exemplificadamente tal assertiva, reportar-nos-emos a um caso concreto, recentemente ocorrido num município do interior de Mato Grosso do Sul, quando uma experiente equipe de policiais civis, liderada por Delegado de características operacionais (desses que não permanecem dioturnamente sentados atrás de uma escrivanhia), em diligência extra-urbanística, ali, no meio da quiçaça, devidamente armados com revólveres, pistolas e carabinas, foram repentinamente surpreendidos com a intrusa presença de um réptil do gênero “saurius” , desses que vulgarmente são denominados “teiú”.
O fato não estaria enquadrado na linha de raciocínio ora abordado não fosse a série de admiráveis acontecimentos que se sucederam, tão logo o dito animal botou a cara na clareira onde se encontrava a equipe.
_ Olha um tiú ali na beirada do mato ! Disse um dos agentes, com o olhar estatelado de espanto.
_ Péra aí, Péra aí, que eu vou estourar o rim dele ! Prontificou-se em argumentar o Delegado, sacando de sua pistola semi-automática.
“Bam, bam, bam, tuiiimmm, bam” (som de disparos de pistola, acompanhados de ricochete de um dos projéteis em uma pedra ao lado do lagartão).
Efetuada essa primeira série de disparos, uma densa nuvem de poeira se formou no local onde estava o “teiú” , enquanto que os policiais permaneceram parados, aguardando a poeira assentar, para logo mais se surpreenderem com a ausência do animal. O bicho não estava mais ali. O delegado havia errado os tiros. Inacreditável !
Inconformados, especialmente a autoridade policial, armaram a seguinte estratégia: Colocou-se um fogãozinho de campanha no chão, sobre o qual havia uma panela e uma frigideira, este último recipiente contendo óleo. Cada franco-atirador tomou sua respectiva posição e, assim, permaneceram em tocaia ao rabudo rastejante comedor de ovo. Não tinha como escapar. Era o fim do lagarto!
No entanto, a atividade fenomênica da natureza se fez novamente presente e, assim, o réptil retornou, habilmente bebeu o óleo que havia na frigideira e passou a ser o alvo pretendido dos policiais que efetuaram um dos mais intensos tiroteios dos últimos tempos, talvez com maior volume de fogo do que o que fora intentado contra a sucuri que havia engolido a onça que comera 170 carneiros.
Qual não foi a surpresa de todos ao perceberem estarrecidos que, mesmo sob tal fogo cruzado o tiú se escafedeu ileso, passando inclusive por baixo das pernas de um dos policiais que se posicionara tal qual o “Kid Morangueira”, disparando seguidamente, incrédulo por avistar o bicho, com o rabo erguido e acenando, sumir mato adentro. E agora !
De uma rápida vistoria pelo local, perceberam estonteados que toda a trajetória do tiú estava picotada de balas, porém nenhum dos tiros o atingiu.
_ Esse bicho tem é o corpo fechado ! Eu não costumo perder tiro assim.
_ Rapaz, esse troço vai ficar chato prá gente. O pessoal vai fazer a maior gozação.
_ Eu não tô é entendendo mais nada. Com é que pode ?

Por mais absurdo e admirável que possa parecer, para tudo há uma explicação lógica e alheia à paranormalidade. Profissionais de tamanha experiência bélica jamais poderiam deixar de atingir o alvo pretendido. Busca-se, portanto, uma explicação que, de fato, convença.


Será que erraram ? Será que não erraram ?

Misticamente, poderíamos nos contentar com a popular e não rara justificativa de que, pela forma em que as coisas aconteceram, a conclusão é a de que “o teiú tem o corpo fechado”. Porém, tal explicação é cabível apenas àqueles dotados de preguiça mental e que se recusam em buscar entendimento lógico-científico.
Desta forma, o tiú pode não ter o corpo fechado, e o frustrado tiroteio ter nexo de causalidade em fenômeno natural perfeitamente explicável pela ciência empírica, no seu ramo da Física no campo da ótica.
Senão, vejamos:
O teiú é um bicho muito interessante, do gênero reptilóide, pertencente à família dos “saurius” -primeiros habitantes de terra-, tem o corpo esguio, pele escamada, possui quatro patas com dedos longos nas posteriores, rabo com igual comprimento do corpo, cabeça triangular, língua forquilhada, dentre outras particularidades atinentes aos lagartináceos.
Na constante batalha pela sobrevivência, o aludido animal tem na pele a sua grande e maravilhosa arma de defesa contra os ataques externos, propriedade essa que há muito vem sendo estudada pela Física no campo da ótica e da balística. No entanto, muito recentemente é que se tem chegado a conclusões mais definitivas a respeito do assunto.
Observe-se que a pele do teiú é dotada de uma textura estampada, envolvida por um brilho especial que só os tiús têm. É justamente essa estampa e esse brilho especial que causam os constantes e intermináveis, para não dizer hiláricos, erros de pontaria, pois que, submetida a qualquer luminosidade a pele do tiú reflete os raios de luz de forma a construir em proximidade eqüidistante um campo magnético ilusório e invisível aos olhos humanos. Esse campo magnético, que na realidade é denominado cientificamente de “complexo visual”, é causa do fenômeno conhecido como “refração virtual do feixe luminoso”, mais popularmente chamado de “ilusão de ótica”. Esse tipo de ilusão pode ser visualmente comprovado ao mergulhar a vara de pescar na água límpida do riacho, oportunidade em que se terá a sensação de que a parte submersa da vara modifica de direção, como se estivesse quebrada. É por isso que para acertar um tiro no peixe é necessário fazer a pontaria para local anterior de onde se tem a sua visão, pois que é ali que realmente ele está.
O que aconteceu no caso do teiú foi a mesma coisa, ou seja, os experientes policiais, na realidade, não erraram os tiros, mas apenas tiveram uma visão ilusória sobre o exato local onde realmente se encontrava o “papa-ovos”, resultando assim em saraivada de balas bem direcionadas, porém a uma imagem virtual e não real.
Embora se considerem avançados os estudos sobre o assunto, no caso do teiú ainda resta um grande desafio à ciência, qual seja o de definir a equação para se calcular, a partir do ângulo de incidência dos raios luminosos, a real localização do bicho, se para frente ou para trás, se para a esquerda ou para a direita, posicionamentos esses que variam de acordo com o ângulo de luz incidente e o ângulo de visão do observador (no caso o atirador).

CONCLUSÕES
1ª) O tiú não tem o corpo fechado.
2ª) Os policiais erraram os tiros, não por imperícia, mas por desconhecimento ou inobservância de preceitos físicos cientificamente comprovados.

CURIOSIDADE
Devido a insistência dos adeptos às explicações de cunho místico, estudiosos da destilação purificaram a banha do teiú, extraindo um óleo avermelhado e de odor forte, para fins exclusivamente policiais.
Consiste tal substância, segundo seus criadores, em eficaz escudo protetor para o corpo do policial de linha de fogo, pois que, ungindo o peito com o “óleo de teiú” estará, por assim dizer, com o “corpo fechado”.
Dario Trachta
Enviado por Dario Trachta em 18/03/2014
Código do texto: T4733907
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