PAPO DE LOBISOMEM
Cumpade Anselmo, ocê num sabe o qui o pessoal anda comentano pras banda lá do Aiuá..., O que é, cumpade?, Ora, diz qui tem um lubisome rondano pur lá.Teve gente qui até já viu. De dumingo pra cá, o bicho feiz um arrastão daqueles. Matô num sei quantas vaca, cabra e até dois jumentim que tavam pastano na bera da estrada. Tá lá o pudridão, pra se vê e cherá, se quisé., Cunversa, home. Isso é doidera do povo, qui num tem o que falá e fica inventano bobage., Eu também achava isso, cumpade. Contece qui, dessa veiz, a negrada diz qui tá sabeno quem é o tal lubisome..., Vixe, é mermo, cumpade? E quem é? Disimbuche logo, home!, É o coroné Furtado, lá da Gamilera..., Mas será possíve, cumpade? Um velhim tão bom, qui nunca feiz mal a ninguém... Além do quê, o pobre home anda se arrastano, cumo é qui pode sair puraí feito besta-fera, nas noite de lua cheia?, Êh, cumpade, pra fazê o bem, não, mas, pra fazê o mal, o diabo bem qui ajuda um bucado!, Me descupe, cumpade, mas eu num vô acreditá nessa históra, não. Pra mim, é mermo mais uma lorota desse povo iguinorante. O coroné Furtado é um home religioso, caridoso, conhecido pelo povo todo, de Massapê a Coreaú, ou senão mais longe ainda!, É, mas ocê sabe muito bem qui, adispois qui a muié dele morreu, ele num pensô duas veiz em butar aquelas duaszinha dentro lá da casa dele... Pegô os fie e as fia tudo de supresa!, Ué, e elas num são prima dele, lá da Meruoca? Qui mal qui tem nisso, home de Deus?, Aí é qui tá, cumpade. Parece qui é tudo enganação. As muié num são prima do véi coisa ninhuma. Tão dizeno qui são umas rapariga lá da Serra Vermelha, que o danado mantinha des’qui era moço e andava pur lá. De prova, taí os fie e as fia do véi, que, de raiva e desgosto, foro imbora e nunca mais dero cum as caras pur lá., Sabe qui, agora, o negoço começa a fazê sintido, cumpade?, Pois é... Pr’aquele lado o povo não fala otro assunto., Oxe, cumpade, seno assim, amanhã mermo, de tarde, selo meu cavalo e vou lá na Gamilera, tirá essa históra a limpo. Finjo qui vou comprá uns porco do véi Lourenço, ou do véi Doroteu, e num saio de lá inquanto num suber de tudo, tintim pur tintim., Posso ir mais ocê, cumpade? É bom qui lhe faço companhia. Vai vê ocê se demora pur lá, anoitece... Ocê tá lembrado que amanhã é noite de lua cheia, num tá?, Vixe, tava não, cumpade Chico, lhe juro... Mas tem nada, não, vamo assim mermo. Se o tal lubisome aparecê, nós dois damo cabo dele direitim. Leve sua ispingarda bem carregada, que eu levo a minha também. O coroné Furtado num sabe a cuspida de chumbo grosso que vai tomá nos lombo, caso se meta a besta e apareça escramuçando na nossa frente...