MAPINGUARI- Massacre na Amazônia.

MAPINGUARI- Massacre na Amazônia.

Jorge Linhaça

Quando os colonos vindos do nordeste se juntaram aos ribeirinhos na selva amazônica, atraídos pela exploração da borracha, encontraram as dificuldades já conhecidas, a malária, o confronto com indígenas, a exploração daqueles que buscavam enriquecer às custas da exploração mais pobres.

A vida na selva também não era fácil, o calor infernal, as condições sub-humanas de sobrevivência, as chuvas torrenciais, os confrontos com animais selvagens até então desconhecidos, tudo cobrava o seu preço. A morte tinha mil faces.

Mas nenhuma face era tão terrível quanto a dos monstros da floresta e, entre esses monstros, nenhum é mais terrível que o Mapinguari.

O Mapinguari é descrito como um ser gigantesco, corpo recoberto de grossos pelos e garras enormes e afiadas, capazes de dilacerar troncos de árvores como se fossem simples gravetos.

Mas a horrenda criatura tem atributos ainda mais horripilantes, sua enorme boca, semelhante à do Quibungo, estende-se desde o peito até a barriga, repleta de dentes mortíferos. E os seus pelos formam uma couraça impenetrável a balas e flechas, com exceção do umbigo, o seu ponto fraco.

Quase ninguém que confrontou essas criaturas sobreviveu para contar a história.

Por mais estranho que pareça aos amantes dos contos de terror, o Mapinguari não se esconde nas trevas da noite, seus ataques ocorrem durante o dia.

E foi numa tarde, em meio á floresta, quando os colonos saiam para caçar e buscar alimentos para sua família que um desses encontros ocorreu.

Os caçadores saíram em dois grupos de cinco integrantes cada, procurando por porcos selvagens, queixadas. Embrenharam-se na densa selva procurando pelo rastro de suas presas.

Um grupo não estava muito distante do outro, embora a mata fechada impedisse que se vissem por mais que alguns segundos.

A caçada continuou por umas duas horas até que urros medonhos foram ouvidos das profundezas da selva, junto com o quebrar de galhos e árvores estilhaçadas. O Pânico foi tanto que os caçadores desnorteados por alguns instantes, foi o suficiente para que a terrível criatura caísse sobre o primeiro grupo e agarrasse o primeiro caçador com uma das patas e o direcionasse para sua boca infernal, devorando su a cabeça e desprezando o resto do corpo inerte e ensanguentado, lançado em direção aos seus companheiros.

Por puro instinto alguns deles ainda conseguiram engatilhar suas armas e disparar contra a criatura, numa tentativa desesperada e inútil de salvaguardar suas vidas.

Mas o Mapinguari aumentando seus urros e numa velocidade impressionante para o seu tamanho agarrou mais dois caçadores que , debatendo-se em v as enormes patas da criatura ainda tentaram usar seus facões antes que a criatura devorasse suas cabeças, como quem se delicia com um petisco qualquer num fim de tarde em um boteco.

Dois caçadores ainda tentaram correr, mas foram logo alcançados sofrendo o mesmo destino de seus antecessores.

O outro grupo de caçadores, atraído pelo tiroteio e os urros medonhos, chegou ao local onde a fera fazia as suas vítimas, encontrando os corpos decapitados e ainda em espasmos nos estertores da morte.

A fera virou-se para eles urrando de raiva, um dos caçadores, que já havia ouvido falar da fera, correu para o mais longe possível após ver outro de seus companheiros ser devorado.

Os outros três, mais valentes, ou mais tolos, tentaram enfrentar o monstro para vingar os amigos e parentes destroçados. Foi o último ato que executaram em sua vida.

O monstro parece ter saciado a sua fome pois nem se deu ao trabalho de perseguir o sobrevivente que, após uma corrida alucinada pela mata, chegou todo ensanguentado ao vilarejo, ferido pelos galhos e cipós e espinhos com os quais se chocara em sua corrida pela vida.

Mal chegou ao vilarejo e desmaiou, parte pela perda de sangue, parte pelo horror monstruoso com o que se havia deparado e ainda por conta da exaustão que sua fuga causara.

Somente no dia seguinte pode dar conta do ocorrido, balbuciando, em frases entrecortadas por gritos de terror até então presos em sua garganta, do encontro com a fera que havia ceifado a vida de seus companheiros.

Uma expedição foi organizada para ir ao local do massacre e lá encontraram os corpos sem cabeça, banhados em sangue, suas armas ainda presas às mãos de alguns e pegadas enormes que atestavam a visita do Mapinguari.

O vilarejo foi abandonado às pressas e durante muito tempo ninguém mais ousou voltar àquela localidade no interior da floresta.