Canto da Sereia

À luz de uma flamejante fogueira na beira da praia em uma noite de luar perfumada por recordações saudosistas de tempos que se passaram e que se tornaram inesquecíveis, um amigo pescador me contou um causo deveras fantasioso que vivenciara em sua juventude. Há muito tempo, em um entardecer qualquer, ao voltar para a praia ele observou que havia em um rochedo uma encantadora mulher de cabelos longos e pretos cuja pele era tão branca quanto a neve que nunca tocara ou sentira e que tinha na metade de baixo de seu corpo uma prolongada cauda de peixe que lhe conferia um aspecto bizarro e inacreditável. Era uma mitológica sereia que havia somente visto em ilustrações de livros fantasiosos. Ela lhe cortejava com uma encantadora música que lhe envolvia hipnoticamente. Pouco à pouco as ondas levaram a sua pequena embarcação para mais próximo dela.

Estando à poucos metros daquele estranho ser, perguntou:

- De onde vieste, formosa dama que parece vir de mares que nunca antes ousei velejar? Questionou-a.

- Venho de muito longe, de um lugar nas profundezas dos mares, onde sonho e realidade se confundem.

- Onde fica este lugar?

- Há 5 léguas daqui, em mil pés de profundidade. Encontra-se inacessível aos que não são capazes de encontrar beleza no surreal. Lá há perigos e alegrias que nenhum humano experimentou.

- Pode me levar até lá?

- Olhe para aquela direção! - Disse-lhe apontando para o sul.

Nada havia o que lhe chamasse atenção. Ao retornar seus olhares para o rochedo, notara que a sereia havia desaparecido. No lugar onde se deitava havia uma ostra do tamanho da palma de sua mão. Pegou um canivete e cuidadosamente a abriu. Dentro havia uma pérola negra de rara beleza que certamente se destacaria como adorno de coroas dos mais importantes reis e rainhas do planeta, de tempos atuais ou pretéritos.

Guardara aquele presente com esmero esperando um dia encontrá-la. Sempre que vai ao mar em sua jangada sonha por vê-la e ouvi-la novamente para poder à ela dizer que seu maior presente seria a felicidade de um reencontro de vidas diferentes que fazem dos acasos momentos de grande significado.

Caio Ferro
Enviado por Caio Ferro em 15/02/2014
Reeditado em 01/08/2015
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