A MAÇÃ, A MULTA E A APOSENTADA

Um senhor todo educado e falante compra maçãs, colhe-as diretamente no pomar. Nos idos de 70 e 80 existia este pomar ao lado da BR 277, em Guarapuava/PR. Ele agradece ao proprietário, embarca no carro e continua seu caminho.

Enquanto dirige, ele pega uma maçã vermelha reluzente e abocanha um pedaço com vontade. Degustava aquele pedaço, doce como mel, e na rodovia um carro lento a sua frente, ele sinaliza a ultrapassagem. Uma mão no volante e outra na maçã. Enquanto ultrapassa, outra mordida na maçã. Saboreava aquela maçã sentido o néctar derreter e escorrer pelos cantos de sua boca.

De repente no meio da pista um policial sinaliza para ele encostar.

A maçã continuava na mão.

O policial, que estava em frente ao posto policial, diz:

- Bela ultrapassagem senhor, em local proibido e bem na frente do posto policial... o senhor está com pressa?

- Nem percebi que era faixa “contínua” seu policial, estava comendo a maçã!

- E dirigindo só com uma das mãos? hein... bonito, muito bonito!! Habilitação, RG e documentos do veículo! Tenho que preencher uma multa! Falou o policial.

Na mão do policial, a caneta estava pronta para preencher o bloco de multas. Com os documentos solicitados na mão, o policial olha o RG e pergunta:

- o senhor é da capital senhor João Candido?

- sim! Respondeu o motorista mastigando a maçã.

- por acaso o senhor trabalha no Funrural? Continuou o policial.

- sim!

- então o senhor é doutor João Candido do Funrural?

- sou eu mesmo, João Candido de Oliveira Neto, estou voltando de reuniões do Funrural na região, semana toda fora de casa!

- Pois é senhor João Candido, seu eu lhe aplicar esta multa terei problemas... sérios problemas!

O motorista olhou desconfiado para o policial, não entendendo o que se passava.

- Imagina! chegar em casa e falar para minha mãe que multei o Doutor João Candido hein?... Para ela, o senhor é um santo. O senhor não deve lembrar, mas minha mãe, dona Firmina, lhe procurou no seu escritório na capital!

O motorista ouvia atento olhando para o bloco de multas, e para a caneta que ficava balançando de um lado pro outro na mão do policial, que falava:

- Ela não iria acreditar que multei o doutor João Candido... Acho que até eu levaria umas palmadas dela doutor. Ela reza pro senhor todo dia em agradecimento pelo que o senhor fez pra ela, ela é devota de Nossa Senhora, sabe! Quando o posto do Funrural negou a aposentadoria dela, ficou doente, não tinha médico que resolvesse o problema. E olha que sempre trabalhou na lavoura, e eu sou testemunha, porque me criei no sítio!

O policial continuava falando e balançando a caneta no bloco:

- Ela não sabia o que fazer para conseguir a aposentadoria. Aqui ninguém resolvia nada e só diziam que não dava para aposentar. Até que alguém disse para procurar o Dr João Candido em Curitiba, que ele poderia ajudar. E não é que deu certo? Ela comenta, até hoje, que chegou no seu escritório mostrou a papelada, o senhor pediu para ela aguardar um instante, saiu da sala com os papéis na mão e quando voltou disse: “dona Firmina, a senhora é agricultora e aguarde em casa que no máximo 30 dias você receberá seu primeiro pagamento”. Até hoje ela conta isto e lhe agradece por ter conseguido aposentadoria e nenhuma pergunta o senhor fez para ela.

O policial guardou a caneta e o bloco e devolvendo o RG e os documentos do carro disse:

- seu dia de sorte hein Dr. João Candido! Por causa de minha mãe, não tenho como lhe aplicar a multa hoje! Mas dirija com cuidado da próxima vez....

O motorista agradeceu ao policial, pediu para mandar lembranças para Dona Firmina, sorriu e foi embora.

*causos Dr. João Candido

Juvenal Tiodoro
Enviado por Juvenal Tiodoro em 06/02/2014
Reeditado em 07/02/2014
Código do texto: T4680282
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