O CUMPADRE E O AMIGO FUBÁ

Na minha juventude fui daqueles jovens que não procurava briga, mas também se insistissem muito eu não corria. Com o tempo me tornei, como se diz, um apaziguador porque quase sempre conhecia os dois lados da contenda.

Nosso lazer era jogar bola, brincar de “trinta e um de janeiro”, e quando as penugens começaram a aparecer, ficávamos espionando, pela greta da janela, algum falso amor nas casas das donas, sempre patrocinadas pelos coronéis da cidade. Vamos pular essa parte por enquanto.

Naquela época, talvez por falta do que fazer, existia turmas inimigas dentro das próprias cidades e também uma rivalidade ferrenha com as cidades vizinhas. Acontecia até mortes por motivos bestas que não compensa contar.

Tinha e tenho até hoje, um amigo de apelido Fubá. O Fubá é a pessoa que tem mais histórias que conheço. Filho único de coronel, magro, fraco, o Fubá parece muito com o personagem que acabei de ler do Maciel de Lima.

Bom, as penugens se instalaram, já tínhamos vinte anos mais ou menos. Naqueles bailes no parque de exposição, éramos uns vinte jovens em volta da pista de dança. Nessa época, o Fubá era invocado com uma moça e o “trem” ia e num vinha. Um “ispicha incóie” que não rendia pra nenhum dos dois. De repente, a moça aparece dançando abraçada com um desconhecido de uma cidade vizinha. Antes de visitar o banheiro vi o fubá batendo o chapéu no joelho dizendo que aquilo não ficaria assim. Quando voltei e ele viu que a turma estava reunida, foi na pista de dança, pegou esse cara pelos cabelos e saiu arrastando até onde a gente estava. Vi que o cara até implorava porque estava sozinho. Como bom samaritano, fiz o Fubá largar o cara com o compromisso de ele sumir de nossa frente.

E os anos passaram. O falso amor do Fubá se foi; época boa de preço do café, o Fubá ganhou um carro do ano. Depois da estréia, que um dia conto, me chamou para ir justamente na cidade do cara que ele arrastou pelos cabelos. Cidade maior, com várias “opções” femininas, nos divertimos bastante. Lá pelas quatro horas da manhã, o Fubá cismou de tomar a famosa “saideira” no Parque de Exposição. A maioria dos barraqueiros desmanchando as barracas, achamos um restaurante cimentado, que descobri depois que era do pai do dito, aberto. E o Fubá dava cada risadão! Contava a “passos largos” que tinha beijado os peitos da ninfeta que fui saber que era filha do dono do restaurante e irmã do dito. E eu doido pra sair dali e o Fubá se vangloriando...

Nos primeiros raios do dia aquele restaurante ou boteco, ou sei lá o quê, foi enchendo de gente sem motivo. Na frente vinha o dito, apontando pro Fubá: É aquele ali!

Eh Maciel, nunca tomei tanto chute, tanta porrada sem poder revidar. Mas teve uma hora que peguei o dito pelo peito da camisa e perguntei se tinha mãe.

Ele mandou parar a sacanagem, “alembrou-se” de mim e me perguntou se poderia fazer a mesma sacanagem que o Fubá tinha feito com ele. O Fubá ficou uns cinco anos sem olhar na minha cara por ter “permitido” ser arrastado pelos poucos cabelos restantes.

E assim é a vida. Colhemos o que plantamos. Um abraço a todos e principalmente ao Maciel que me inspirou essa lembrança.

JOSÉ EDUARDO ANTUNES

Zeduardo
Enviado por Zeduardo em 03/02/2014
Código do texto: T4677128
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