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O BEATO DE SÃO JOSÉ DOS PINHAIS
 
            O sol estava a pino quando José acordou. O raio de luz na fresta da janela batia em seu olho, incomodando-o. Levantou, passou uma água no rosto e foi tomar o café que permanecia quente na chapa do fogão. O filho chegou da escola  e as perguntas começaram.
           
          - Papai... A professora disse...
           

     - Disse o que, guri. Fala logo, não enrole. – Respondeu o pai.
           

           - É sobre o beato de São José dos...
           

         - Ih! Essa história desde o tempo do meu avô já se falava. Mas nesse final de semana vou te levar na casa do meu pai, ou seja, do teu vovô. Ele te conta melhor. Mas o “véinho” quando começa a falar, sai da frente. Não para mais.
            
        Os dois riram em gargalhadas.
           
       No sábado, lotaram a carroça e lá se foram: O pai, a mãe, quatro filhos, mais um cachorro e o papagaio para pousar na casa do velho Adão na Colônia Murici. José falou o principal motivo de estarem ali. O Joãozinho precisava fazer um trabalho na escola sobre o tal de beato de São José dos Pinhais. 
           
     O senhor Adão pegou duas varas de pescar, tirou algumas minhocas do quintal  e ambos se foram para o Rio Miringuava. Avô e neto pescando juntos. Na pescaria começaram a falar sobre o assunto. 
           
               - Vovô, o que o senhor sabe sobre o beato de São José? – Perguntou o piazote..
         

              - O que eu sei, filho, é aquilo que as pessoas  contam. Havia um homem andarilho no município de São José dos Pinhais. Esse senhor andava sempre com uma Bíblia na mão. A pregação dele era sempre a mesma. Falava contra as imagens de escultura... Opa... peguei um bitelo! Daqui a pouco vem o teu também... Quando as pessoas passam por ali de noite ou de madrugada, (continuou o homem), ainda ouvem ele pregando. Vem falando e se aproximando. Quem conta que ouviu, correu e saiu na disparada. Meu pai, ou seja teu bisavô passou a cavalo quando voltava de um baile. A voz do velho pregador foi se aproximando. O animal, empacou e não ia em frente. Chicote e espora não adiantava. De repente o tal de beato pulou na garupa e o cavalo saiu veaqueando. Se papai não fosse um bom cavaleiro, teria caído e se quebrado. Quando chegou na porteira da fazenda que vovô morava, desapareceu, e tudo voltou ao normal. Foi um susto daqueles.  Puxe.... piá, que o peixe está no teu anzol. Viu que bitelão? Hoje pelo jeito vai ser bom.
           
          - Continue vô o que estava falando. – Disse o netinho curioso.
           
          - Então... Depois desse susto, nunca mais papai passou de noite por aquele lugar. Mas sinto saudades do meu tempo de guri...
           
          - Vovô, o senhor está chorando?
           
          - Largue mão de ser bobo piá. Não está vendo que foi um cisco no meu olho? – Disfarçou.
           
          Ambos voltaram pra casa cada qual com uma fieira de lambaris e bagres. A curiosidade do menino foi satisfeita.
           
          O professor e historiador João conta para os netos e bisnetos essa história e os momentos inesquecíveis com seu finado vovô no dia dessa pescaria.
           
          - É meus netos amados... cento e sessenta anos se passaram desde que São José dos Pinhais se emancipou politicamente. Desvinculou-se de Curitiba. Essa história do beato é apenas uma delas...
           
(Christiano Nunes)