O CORNO QUE TROCOU A MULHER POR UM RÁDIO
- Seu Joaquim, a tua muié ta te butando chifre! Te alui, fidumaégua!
- Conversa é essa, macho! A minha Dasdô é muié dereita, trabaiadora. Essa hora ela tá lá em casa fazendo tricô, tadinha.
- Tá fazendo tricô, mas é com os zóvos do teu vizinho, o Zégeraldo!
- Aí dento! O Zégeraldo é meu cumpade. Caba bom e é meu amigo de muito anos!
- Deixa de ser abestado e vai lá pegar os dois se abufelando! Corno féladaputa!
O seu Joaquim trabalhava no mercado consertando todo tipo de eletrodoméstico. Mas ele gostava mesmo era de ajeitar rádio. Entendia era de tudo. Era formado por correspondência pelo Instituto Rádio Técnico Monitor, quando ainda era um menino de calças curtas. Tinha uma enorme coleção de rádios antigos: Blaupunkt, Wsw Barítono, Emerson, Frahm PL-500, Zenith, entre outros, sua verdadeira paixão.
O povo falava que logo que ele saía de casa, a mulher dele caía nos braços do fogoso Zégeraldo, o vizinho e compadre do seu Joaquim. O povo falava, falava e falava, mas o seu Joaquim não dava ouvido ao falatório. Continuava ali na sua humilde banquinha no mercado.
- Seu Joaquim, deixa de ser corno! Avemaria do véi corno!
O seu Joaquim olhava por cima dos óculos e sorria. Não tava nem aí para o que os fofoqueiros diziam a respeito da dona Maria das Dores. Aliás, ele botava a mão no fogo por ela.
- Esse é o famoso “corno-churrasco”!
Todo dia era a mesma ladainha. O povo avisava que a mulher dele tava metendo chifre nele, mas seu Joaquim não acreditava nem a pau.
- No dia que me trouxerem uma foto, eu acredito.
Aí trouxeram a dita foto. Êita, mas que foi um desmantelo da peste, foi. Quem conheceu o seu Joaquim ali na banquinha no mercado, branquinho, baixinho, caladinho, humilde e tímido, ficou até com medo. O chifrudo quando viu a foto da mulher dele abufelada com o Zégeraldo, se transformou. Ficou vermelho como um pimentão e se armou de um facão Canindé, cuja lâmina é tão afiada que corta até a alma do infeliz. Partiu pra casa dele feito um raio, soltando fumaça, mais suado do que tampa de cuscuzeira.
- Hoje vai ter morte! – o povo gritava atrás dele.
O seu Joaquim entrou porta adentro e flagrou os dois amantes enganchados em cima da cama. O compadre Zégeraldo quando viu o facão Canindé com a lâmina tinindo, deu um pulo pra trás, choramingando.
- Num me mate não, cumpade Joaquim! Num me mate não, meu cumpade! Pelamordedeus!
A mulher, enrolada no lençol, se tremia que nem vara verde. Os zói arregalados, mais parecendo um caburé. Não tinha explicação para aquela cena. O cheiro de chifre queimado infestou o quarto. O seu Joaquim de repente parou. Soltou o facão no chão. Os amantes se entreolharam assustados. Em cima da mesa tinha um rádio Philco TRANSGLOBE nove faixas, ano 1973, o conhecido B-481, uma relíquia para colecionadores.
Seu Joaquim não se fez de rogado. Botou o rádio debaixo do braço, olhou com calma e desdenhosamente para o seu compadre Zégeraldo, que estava completamente nu, de pau mole, encostado na parede, olhando sem nada entender o que estava acontecendo.
- Cumpade Zé, pode ficar com essa muié. Agora, esse rádio, eu vou levar.
Até hoje não se sabe o que aconteceu depois. O fato é que, no dia seguinte, o seu Joaquim voltou a trabalhar normalmente em sua banquinha no mercado, ajeitando rádios, como se nada tivesse acontecido. Também não se sabe o que aconteceu com o compadre Zégeraldo e nem com a dona Maria das Dores.
A única coisa que se sabe é que o rádio está funcionando perfeitamente.