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O PÚBIS
O PÚBIS
Outra versão de «Um púbis incomparável»
Não fosse a relva negra e aveludada do púbis da diaba da moça, até já teria sepultado, em definitivo, nas relembranças, o desbragado sungar de saia a que meus agoniados olhos infantis presenciaram, perplexos, numa beira de rio, em quadra de meia-enxurrada. Sabe-se lá quando tudo aquilo me sucedeu; faz talvez, daí, uma banda inteirinha de século.
Encharcado de convicção, calculo e estipulo hoje que, à época dessa delícia de deslumbramento, ninguém mesmo, ainda, me havia iniciado na lição ou rudimentares apontamentos sobre os paleios afins da sexualidade, quanto mais recebido aulas pra valer a respeito das interessantes, mas arriscadas investidas e perturbações do sexo. Coisa miúda, eu era e estava jejuno, até então, embora sendo de gêmeos, contudo portador involuntário do zodíaco de virgem. Por aí, portanto, zero de tesura nas partes, um menino bocó, magricela dos meus sete / oito anos.
Na terrinha da minha inconsciência – não se riam de jeito nenhum –, é possível, e terá sido factual, que a visão daquela lindeza, desnuando-se sem pejo algum, justo ao atravessar um rio, foi-me a primeira tomada de uma torrente de complicações que me iriam ferroar a memória durante a existência inteira. E, ainda agora, no igual-igual, dou de testa com as evoluções do acontecido: um púbis chão, todo em negrume, bonito de se ver, algo assim como um girassol, me magoa as pitombas – não, eu corrijo no ato este meu errado dizer – os botijões do olhar. Pois isto sem anuir os machucões que aporrinham as pontas das orelhas do meu coração, desde ter sido pueril até maioridade.
Como não bastasse ser a dona aquela todinha bodega de estética, aliás, de pôr gastura até em olho de frade, a serrana parecia um peixe apto para o garfo. Companhia de viagem – num giro de passeio, na verdade –, sem qualquer cerimônia, nem panos finos por baixo a pestinha da moça portava. E, sem pejo de mostrar-se ao guri que lhe servia de pajem, a moça arranjou mais pose para soerguer as vestes todas, bem ao pórtico dos peitos, pondo ao nu a deslumbrante messe mais fecunda das paragens do corpo feminil.
Daí, alumbrado, bobão e babaca, como frangote magro diante do xerém, desci o olho e arriei os beiços, no maior espanto, até aquele momento, de toda a minha vida. Atônito. Era um ventre celestial, o púbis uma vasta boniteza. Viche!... Ali, nas entrepernas da dita, que aqui batizo pelo suave gracejo de L., tudo por um triz de tempo, a geografia anatômica da moçoila ficou-se à mercê dos meus alentados olhares compridos. E ela, o que fez? Nada. Impassível, como a imagem de De Milus. Só que apetrechada de cabeça, cabelos e a elegância que nenhum artista ainda pusera na estatuária. Tudo rápido, veloz, num átimo de instante. E valeu ver do mirante. Aquilo, para mim, era a paisagem inóspita de um oásis, a mais apropriada região para lá residir uma coisinha esquisita e incógnita que, segundo as pessoas grandes, atende por senhora dona felicidade.
Implumes, as minhas partes ocultas, que jamais eu ousara noticiar, sequer se aperceberam elas do risco por que andaram correndo. Todavia nada pelo sopé da curiosidade se me inflou nem evoluiu. Coisa de monta, mesmo, no todo do meu eu, nada então se me avolumou. A não ser, no diacho da massa do cérebro, o fermento da indescritível felicidade. Feliz em poder, da arquibancada da minha primeira infância, contemplar o universo. Ou dizer, então: o campinho de futebol onde se gestam e depois fumegam todas as celeradas torcidas. Ali, no êxtase de segundos, lá se me foi embora o que ainda certamente havia da não sabida virgindade.
Num estado de eu-nem-sei-mais-onde-estou, e sem maldade nem concupiscência, por volta dos meus sete / oito anos, eu vislumbrava um estádio olímpico e a gleba mais fecunda deste nosso paraíso terreal: um púbis, em ancho telão negro, e de moça cor de canela, mas não tão-apenas ficção infantil. Deve-me ter pulado fora daquele baixo-ventre de mulher campesina, feito berro de bode, ou que nem balir de ovelha, ver talvez mugir de boi brabo, o meu incipiente motim subversivo da sexualidade.
Encharcado de convicção, calculo e estipulo hoje que, à época dessa delícia de deslumbramento, ninguém mesmo, ainda, me havia iniciado na lição ou rudimentares apontamentos sobre os paleios afins da sexualidade, quanto mais recebido aulas pra valer a respeito das interessantes, mas arriscadas investidas e perturbações do sexo. Coisa miúda, eu era e estava jejuno, até então, embora sendo de gêmeos, contudo portador involuntário do zodíaco de virgem. Por aí, portanto, zero de tesura nas partes, um menino bocó, magricela dos meus sete / oito anos.
Na terrinha da minha inconsciência – não se riam de jeito nenhum –, é possível, e terá sido factual, que a visão daquela lindeza, desnuando-se sem pejo algum, justo ao atravessar um rio, foi-me a primeira tomada de uma torrente de complicações que me iriam ferroar a memória durante a existência inteira. E, ainda agora, no igual-igual, dou de testa com as evoluções do acontecido: um púbis chão, todo em negrume, bonito de se ver, algo assim como um girassol, me magoa as pitombas – não, eu corrijo no ato este meu errado dizer – os botijões do olhar. Pois isto sem anuir os machucões que aporrinham as pontas das orelhas do meu coração, desde ter sido pueril até maioridade.
Como não bastasse ser a dona aquela todinha bodega de estética, aliás, de pôr gastura até em olho de frade, a serrana parecia um peixe apto para o garfo. Companhia de viagem – num giro de passeio, na verdade –, sem qualquer cerimônia, nem panos finos por baixo a pestinha da moça portava. E, sem pejo de mostrar-se ao guri que lhe servia de pajem, a moça arranjou mais pose para soerguer as vestes todas, bem ao pórtico dos peitos, pondo ao nu a deslumbrante messe mais fecunda das paragens do corpo feminil.
Daí, alumbrado, bobão e babaca, como frangote magro diante do xerém, desci o olho e arriei os beiços, no maior espanto, até aquele momento, de toda a minha vida. Atônito. Era um ventre celestial, o púbis uma vasta boniteza. Viche!... Ali, nas entrepernas da dita, que aqui batizo pelo suave gracejo de L., tudo por um triz de tempo, a geografia anatômica da moçoila ficou-se à mercê dos meus alentados olhares compridos. E ela, o que fez? Nada. Impassível, como a imagem de De Milus. Só que apetrechada de cabeça, cabelos e a elegância que nenhum artista ainda pusera na estatuária. Tudo rápido, veloz, num átimo de instante. E valeu ver do mirante. Aquilo, para mim, era a paisagem inóspita de um oásis, a mais apropriada região para lá residir uma coisinha esquisita e incógnita que, segundo as pessoas grandes, atende por senhora dona felicidade.
Implumes, as minhas partes ocultas, que jamais eu ousara noticiar, sequer se aperceberam elas do risco por que andaram correndo. Todavia nada pelo sopé da curiosidade se me inflou nem evoluiu. Coisa de monta, mesmo, no todo do meu eu, nada então se me avolumou. A não ser, no diacho da massa do cérebro, o fermento da indescritível felicidade. Feliz em poder, da arquibancada da minha primeira infância, contemplar o universo. Ou dizer, então: o campinho de futebol onde se gestam e depois fumegam todas as celeradas torcidas. Ali, no êxtase de segundos, lá se me foi embora o que ainda certamente havia da não sabida virgindade.
Num estado de eu-nem-sei-mais-onde-estou, e sem maldade nem concupiscência, por volta dos meus sete / oito anos, eu vislumbrava um estádio olímpico e a gleba mais fecunda deste nosso paraíso terreal: um púbis, em ancho telão negro, e de moça cor de canela, mas não tão-apenas ficção infantil. Deve-me ter pulado fora daquele baixo-ventre de mulher campesina, feito berro de bode, ou que nem balir de ovelha, ver talvez mugir de boi brabo, o meu incipiente motim subversivo da sexualidade.
Outubro de 1996.
Fort., 12/01/2014.
Fort., 12/01/2014.