CUECA NA IGREJA

CUECA NA IGREJA

Moacir e D. Maria saíram cedinho, foram visitar a filha e os netos numa cidadezinha próxima. Casal simples, criado na roça, não tinha muita “frescura”. D. Maria pegou uma muda de roupa para cada um e partiram.

Depois de algumas horas de viagem, finalmente chegaram. Foi alegria geral, almoço em família, rodeados de filhos e netos e a tarde toda para descansar. Como é costume, após as dezoito horas, Seu Moacir sempre vai tomar umas “cangibrinas”, dessa vez, junto com o genro, portanto, o papo foi mais duradouro e aumentou a necessidade de molhar ainda mais as palavras.

Retornando para casa já com umas na cabeça, seu Moacir foi tomar banho. No banheiro, como de costume, sua mulher já tinha deixado seu pijama no jeito. Tirou a roupa suja e como não estava em sua casa, não sabia muito que fazer com ela, pendurou a calça com cueca e tudo no primeiro gancho que achou. Tomou seu banho reconfortante, vestiu seu pijama de bolinha e foi para o repouso merecido.

Apesar das cachaças e dos palavrões que costumeiramente sai da sua boca, é um ser humano fantástico e católico fervoroso, não perde nenhuma missa de domingo, esteja onde estiver, e mesmo de ressaca, acordou com o sino da igreja que fica próxima a casa da filha. Não teve dúvida, pulou da cama, foi ao banheiro, fez a higiene pessoal, sacou o pijama, e para não perturbar a mulher, enfiou o pé na calça usada mesmo, e lá foi ele para a missa.

Chegando à igreja, como de costume, fez o sinal da cruz, entrou e percebeu que alguns olhares estavam voltados pra ele, mas, não deu importância, ele era estranho na comunidade. Seguiu em frente, procurou um banco se ajoelhou, fez sua oração pessoal e aguardou o começo da Santa Missa.

Assim que começou a missa, ele em um momento de distração olhou para baixo e viu uma cueca azul no chão.

— Caramba! O que faz uma cueca aqui na Igreja? Pensou. Como pode, alguém perder uma cueca? E ainda mais, na Igreja.... Será possível que aconteceu o que estou pensando? Não, não pode ser. Aqui é a casa de Deus. Deixa isso pra lá, não é problema meu. Vou me concentrar na missa.

Mas, como se concentrar na missa diante de uma situação tão esdrúxula como essa? Como pode aparecer uma cueca usada, no meio da Igreja? Qual a explicação para esse fenômeno?

— Bem, não deve ser uma cueca de adulto, deve ser alguma mãe que perdeu a cueca do filhinho. Pensou mais uma vez.

Aquilo começou a incomodá-lo, não conseguia prestar atenção no que o padre dizia e, desviando mais uma vez a atenção, correu o olhar de forma discreta e constatou:

— Não é cueca de bebê, está muito grande. Será que é desse pessoal aqui do lado? Mas, como isso foi acontecer?

Envolto nessas perguntas sem respostas, a missa se arrastou por uma eternidade, e ele, sem compreender o que tinha acontecido. Mas, antes que os outros pensassem mal dele, discretamente empurrou a cueca com o pé para debaixo do banco e finalmente se concentrou.

Terminada a missa, foi direto pra a casa, na mente ainda fervilhava muitas perguntas. Chegando á casa da filha, não contou a ninguém, nem mesmo à mulher, a situação era tão surreal que não valia a pena fazer nenhum comentário, era mais fácil acharem que ele estava ficando doido. Ali, ainda pensativo, jogou um pouco de conversa fora, tomou umas cervejas e foi almoçar em família.

Final do dia, hora de retornar. D. Maria ajeita as coisas daqui, ajeita dali, de repente pergunta:

— Moacir, onde está a cueca usada que você trocou ontem?

Como um estalo, ele lembrou a cena da cueca na igreja...

— Que cor que era a cueca muié?

— Azul. Sabe me dizer onde ela está?

— Sei sim. Na Igreja.

— ???????????????