JOÃO BANHA

Às vezes existem certas passagens na vida que são armazenadas na memória de uma forma tão instantânea e concreta, que tais recordações são recordadas com bastante prioridade.

Falando assim, recordo-me que em Bom Sucesso viveu um senhor, com idade mais ou menos de cinquenta e cinco anos. Era não muito alto, tinha problemas de saúde neuróticos, mas era acompanhado por um tratamento médico bem completo. Seu nome era João, principal nome, mas por ser meio lunático, falava muito, gritava, cantava e outros atos de um pouco de loucura, puseram-no apelido de João Banha.

Assim, era ele conhecido em toda cidade. Quando alguém o cumprimentava, ele dizia que se chamava João. Ficava ele furioso quando alguém o chamava de João Banha ou simplesmente Banha. Ele xingava, ele batia, principalmente se estivesse com um cabo de enxada na mão.

Infelizmente, por faltar um pouco de educação e respeito pelo ser humano, algumas pessoas o chamavam de apelido somente para vê-lo xingar.

O Sr. João gostava de ficar na rodoviária. Lá, seu meio lar, reclamava muito da vida, xingava, cantava, gritava, mas não agredia ninguém. Algumas pessoas, já sabendo de seu apelido, conversavam com ele, mas não o agredia moralmente. De vez em quando, alguns sem noção da vida, faziam piadas dele, mas sempre com algum humor era resolvido.

Certa vez, na rodoviária, estava eu para viajar para Belo Horizonte, quando o Sr. João estava sentado em um banco e dizia que queria casar, mas só faltava a noiva. Todos riam e ele, sempre com humor, ria também. O ambiente estava bem agradável.

Em determinado momento, chegaram duas senhoritas, que também iam viajar à Capital e começaram a conversar sobre o vestibular, sobre emprego, sobre o futuro. Em um determinado momento, uma delas falou que gostaria de fazer o curso de Medicina Veterinária. A outra, Agronomia. Intervi, quando alguma delas perguntou qual curso eu faria e imediatamente respondi que seria Contabilidade. Bom curso, disse a Mara, uma das senhoritas que pretendia ser médica veterinária.

Mara disse que dentro do curso de medicina veterinária gostaria de se especializar em suinocultura, disse ela, sem saber que o Sr. João estava bem próximo dela, ou seja, criação de porcos.

Foi um espanto, porque o Sr. João, com um cabo de enxada na mão, disse, com voz bem forte, a seguinte frase:

- A mocinha ai, vai estudar para criar “porco”. Então é o seguinte:

- O porco, quando nasce, é leitãozinho. Muito pequeno... Aí, ele começa a crescer dando muito milho, muito fubá, muita ração, muita lavagem. Ele vai crescer. Ele vai ficar um porco bem gordo, pesando mais ou menos umas doze arrobas. O dono do porco resolve mata-lo. Depois de morto, o porco vai dar muita carne e muito toucinho. Do toucinho, o dono do porco vai fritar e depois de frito, o toucinho vai virar B A N H A... Então, esta mocinha está mexendo comigo. Vou mostrar para ela quando me chama de João Banha...

Neste instante, não se viu mais nada, a não ser o Sr. João correndo atrás da Mara, com o cabo da enxada repicando em suas costas e ela chorando...

Deste fato, recordei, porque ouvi o anuncio que o Sr. João havia falecido. Desta passagem até a data do falecimento dele foi mais ou menos uns dez anos.

Hoje, revendo a minha amiga Mara, que hoje tornou-se veterinária e especializada em suinocultura, recordei com ela esta passagem.

Ela me disse que as pauladas em suas costas doeram por um bom tempo.

JOSÉ CARLOS DE BOM SUCESSO
Enviado por JOSÉ CARLOS DE BOM SUCESSO em 28/12/2013
Reeditado em 21/06/2016
Código do texto: T4628662
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