O VELÓRIO
O VELÓRIO
O tilintar do velho telefone preto, som estridente que atingia os ouvidos dos vizinhos, até a casa da terceira laçada, mal acabara de tocar o segundo tri-li-lin, dona Matilde num pulo rápido atendia atônita.
: - a l ô...
:- Tilde sabe quem foi que morreu? Foi sim, o velho não aguentou, morreu o compadre Jerônimo...
Mesmo sem estar sofrendo mal nenhum, Matilde começou a ter "chiliques”, mas só depois de ter avisado a sua terceira filha Das Graças, "assessora para assuntos fúnebres".
-Avise as outras, ordenou.
Das Graças, mais que depressa avisou a todos, inclusive a irmão caçula. Mas que depressa correu ao salão de beleza, fez escovas e colocou brilho nos cabelos, arrumou as unhas, limpou a pele, preparou-se como se fosse a uma festa.
Ao chegar no velório, adentrou-se pela câmara
mortuária, radiante, sorrindo, mas reservando o devido respeito para a ocasião. Num caminhar rápido atravessou o salão, dando os pêsames para alguns familiares aqui, célere voltava para o outro lado, cumprimentado os familiares ali, presentes sem perceber, os ponteiros do relógio avançavam madruga a dentro.
Quando o seu marido fora busca-las (sua irmã mais velha acompanhava-a). Ir embora jamais, respondeu Das Graças completando, "isso aqui está bom demais"...
Depois de muito dialogo, resolvera ir embora, mas na seguinte condição, "sair dali somente se ela voltasse de "madrugadinha", a fim de aproveitar o máximo àquele ambiente", pois adorava tudo aquilo e não poderia de maneira nenhuma perder um “enterrão” daqueles.
Goiânia, 26/12/13.