A MOBILETE E A CARRETA
"... MAIS VALE A FÉ QUE O PAU DA BARCA..."
No final dos anos 60 e início dos 70 (cerne da ditadura), reinava na imprensa de contestação, um tablóide denominado PASQUIM. Seus editores eram jornalistas com vocação intelectual como Millor Feranades, Sérgio Cabral (pai do atual governador do Estado do Rio de Janeiro), Henfil, Ziraldo, Paulo Francis e muitos outros. Seu mascote (imaginário) era um ratinho denominado Sigmundo, que vivia tentando colocar as coisas no lugar. Chegou a editar a casa de 100 000 exemplares. Circulava semanalmente. Seus leitores e admiradores eram os artistas, os intelectuais e a juventude universitária. Seus inimigos, os lacaios da ditadura. Seus críticos os demais conservadores. Foi lá que busquei a inspiração para o presente “Causo”.
Nos meados dos anos 70, Donato, meu compadre de paixão caipira e eu compramos uma mobilete cada um (estávamos no coração da crise do petróleo). Rodava 80 km. com um litro de gasolina. O motor era pequeno, mas dava conta daquilo que aspirávamos. Rodar pelas cercanias de Ilha Solteira, para curtir a qualidade da terra, própria para a agricultura. Visitávamos as fazendas com a desculpa de procurar esterco bovino para as hortas que nos acompanhavam quando mudávamos de escolas.
Certa ocasião, quando voltávamos da fazenda do Sr. Roldão, ali na baixada do Tabox (como era chamada e nem sei porque), nos deparamos com uma carretona (oito eixos), lotada de calcário (umas 40 toneladas), que ia pro Chapadão dos Gaúchos onde estavam dando os primeiros passos na fronteira agrícola do Centro Oeste. Estava parada, e o motorista, um gaúcho, sentado no estribo com ar de desconsolo. Paramos na parte da frente por uma questão de segurança e voltamos pra conversar com o viajante. Ficamos sabendo que ele havia dado uma “banguela” lá em cima e “despinguelou”. Quando o veículo atingiu 120 km/ph pisou levemente no freio. O freio pegou mas o motor apagou. Experiente que era, não tirou o pé e a velocidade foi diminuindo. Marcha não entrava, é claro, foi encostando devagar e parou no acostamento. Bem na baixada. Ao dar partida percebeu que as baterias não tinham potência pra girar o enorme motor Scannia. Daí o desânimo. Como é do meu feitio, logo percebi que o habitante dos pampas precisava de ajuda. Perguntei se tinha uma corda. Tinha. Não muito grossa, mas forte. Pedi ao meu compadre Donato (especialista em dar nó em todos os sentidos da palavra), que amarrasse na minha “garupeira” e depois no pára-choques da grande locomotiva. Assim que fui atendido montei a minha máquina e fiz subir, através do acelerador, a rotação do motor, lentamente. Quando começou a fazer força ( ela era automática) percebi que estava pesado demais e a fumaça começou a tomar conta do ambiente. Foi quando percebi a causa e dei a ordem fulminante: "SOLTA O BREQUE DE MÃO, TCHÊ!!! , no que fui atendido de imediato. A carretona deslizou , o tranco foi dado e o motorzão urrou na baixada fazendo eco pelas redondezas. Os agradecimentos de praxe: ... Se um dia precisar, estando em Pelotas é só perguntar por “Ernesto caminhoneiro que todo mundo conhece...” “...espero que o Criador me proteja e não precise, mas se for o contrário terei imenso prazer de lhe procurar...” (Oldack/08/11/010). Tel. (018) 3362 1477).X