O ciúme
O ciúme
Margarida estava noiva de Jairo. Pretendiam casar-se em três meses. Não queriam cerimônia religiosa, nem festa, nada. Apenas assinar os papéis no cartório, trocar as alianças e serem felizes para sempre. Conheciam-se há pouco mais de um ano. A paixão evoluiu rapidamente para um amor e logo estariam casados.
A mãe de Margarida não aprovava muito a ideia repentina da filha. Insistia para que ela namorasse mais um pouco, era muito jovem tinha apenas vinte e três anos. Tentou de todas as maneiras convencer a filha, mas Margarida apaixonada como estava queria logo estar com Jairo seu amado.
Como a juventude é bela! A paixão fecha nossos olhos para o lado prático da vida. A bomba estourou no dia do casamento. Quando estavam no cartório, a irmã de Jairo chegou muito alegre e foi apresentando Dulcina para os que estavam presentes. Amélia dizia que Dulcina era sua cunhada, que veio de Minas especialmente para o casamento de Jairo e Margarida. Margarida não conhecia toda a família de Jairo e nem prestou atenção na fisionomia de Jairo quando acabou de dizer o sim. Do cartório foram todos para um almoço em uma churrascaria. Margarida tão feliz com seu casamento teve a primeira decepção na noite de núpcias.
Lá pela meia-noite, ouviu o celular de Jairo tocar. Não tinha ainda se arrumado para a sua noite de núpcias em seu pequeno apartamento e encontrou Jairo vestido, com a mão na maçaneta da porta, dizendo que precisava dar uma saída rápida. Saída esta que se estendeu até de manhã, quando chegou a casa, cansado e todo amassado.
Margarida encheu-lhe de perguntas e ele respondeu de uma vez só, meio desesperado, meio louco. – “Senta aí, quero te contar tudo. Aquela mulher que veio com a Amélia, a Dulci na. Eu e a Dulcina moramos juntos lá em Minas, nós temos um filho de três anos. O menino passou mal esta noite fui com ele para a emergência do hospital. Antes não tinha coragem de te contar.”.
Margarida teve uma crise de ciúmes, e xingou Jairo de tudo quanto foi nome, depois rasgou a roupa e, arranhou o rapaz, e depois de tanta briga, xingamento e mais briga, fizeram as pazes, e acabaram na cama se amando.
Alguns meses se passaram, Margarida engravidou e estava muito feliz, fazia planos para a chegada do bebê. Estava trabalhando e estudando à noite. Vivia feliz com Jairo, de vez em quando tinham umas brigas por causa do ciúme de Margarida. Dulcina e o filho estavam morando no Rio, e sempre que podia, ligava para Jairo nas horas mais impróprias, sempre com a desculpa de que o menino estava febril, precisava ir ao médico e coisas desse tipo.
No sexto mês de gravidez, Margarida entrou em trabalho de parto prematuro, e a menina nasceu morta. Ao voltar para casa, durante o resguardo, aumentaram suas crises de ciúme de Jairo. Estava de licença maternidade, ficava em casa sem ter o que fazer, e pensava dia e noite, que Jairo a estava traindo com Dulcina. As brigas aumentaram muito. A mãe de Margarida levou a filha a um psiquiatra com medo de que a doença que a filha desenvolvera na adolescência estivesse de volta. O médico receitou alguns remédios, umas cápsulas para dormir, produto com receita controlada. Margarida apresentou uma melhora visível, logo na primeira semana, estava seguindo o tratamento direitinho. Dias depois, uma amiga foi visitar-lhe e ela segredou-lhe:
“Vou me vingar do Jairo, da Dulcina e do filho deles”. A amiga queria saber o motivo e ela respondeu: “Eles mataram minha filha, tudo isso é uma armação, eu vou me vingar deles”. Vou fazer uma viagem e ninguém mais vai me achar.
Na segunda-feira pela manhã ao abrir a porta do pequeno apartamento, Jairo deu com o corpo de Margarida estendido ao chão. Saiu correndo, gritando pelo corredor: “Ela está morta, morta!”.
No enterro, Jairo se explicava para alguns amigos: - “Eu não estava lá com ela, pois meu filho teve uma crise de amor e passei a noite na emergência de um hospital com ele. Eu expliquei tudo a ela direitinho. Eu até achei ela bem calma” >.
Das trevas onde Margarida tinha ingressado, ela observava com muito ódio a cena do velório. Os obsessores que se juntavam a ela, empurrando-a para aquele ato final, riam e gargalhavam dela, enquanto ela no seu desespero tentava em vão gritar, e bater no rosto de Dulcina, que carregando o filho pela mão estava próxima de Jairo, disponível a ajudá-lo em sua tragédia.