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UMA INESQUECÍVEL NOITE DE NATAL
(Republicado)
(Republicado)
Vinte e quatro de Dezembro. 7 horas da noite. Correria para as últimas providências para a ceia.
Letícia corre – corre entre o forno onde assa o peru, a mesa onde monta os canapés e os meninos que peralteiam a sua volta.
Olha para fora e vê que se aproxima um temporal. Já começa até a ventar e, então, lembra-se de que falta comprar umas coisinhas de última hora no supermercado a duas quadras de sua casa.
Sai apressada, quase correndo, pensando em ir e vir antes que a chuva caia, mas...
De repente vê a beira da calçada, em cima de um monte de caixas vazias, uma em que he pareceu ter alguma coisa viva dentro.
Pensou que fosse um cachorrinho ou um gatinho abandonado, aproximou-se e, qual não foi o seu espanto ao ver que era uma criança, que estava ali dentro, um bebê recém-nascido, bem embrulhadinho, parecendo ter acabado de sair da maternidade.
Ficou atônita, sem saber o que fazer. A rua estava deserta. Nesta nossa era de muros altos e portões fechados, nenhum sinal de vida nas casas ao redor.
A chuva começou a cair pesada acompanhada de vento forte, raios e até granizo e ela, apavorada, pegou a caixa e voltou correndo para casa.
Entrou transtornada e o marido brincou com ela:
-A chuva foi mais rápida do que você?
Colocou a caixa sobre uma cadeira e tirou o bebê que chorava.
Foi a vez dele se assustar:
-Mas, que significa isso?
Ela contou atabalhoadamente o que acontecera e perguntou:
-E agora? O que vamos fazer?
Mais calmo, ele respondeu:
-A primeira coisa e trocar a roupa dele. Se não vai ficar doente assim todo molhado da chuva.
Não tinham roupa de bebê em casa. O caçula já tinha quatro anos, mas foi com uma camiseta dele e uma toalha de banho que ela acabou agasalhando o bebe.
Enquanto trocava a camiseta, deu uma espiadinha e sorriu para o marido:
-É uma menina!
Eles tinham dois garotos e estavam pensando em completar a família no próximo ano, se possível, com uma menina, mas não pensavam em adotar.
O bebê chorava e ela achou que ele estava com fome, mas, como alimentá-lo?
O garotinho menor sugeriu:
-Dá uma bolachinha pra ela
O maiorzinho caçoou:
-Imagine se um bebê desses come bolacha! É melhor uma banana raspadinha.
Letícia resolveu o problema. Telefonou para a farmácia e pediu para mandarem, com urgência, uma mamadeira, uma lata de leite e um pacote de fraldas.
E agora? Que será que a gente faz numa situação dessas? Será que este caso é da alçada da polícia? Do juizado de menores? Do conselho tutelar?
Não se lembravam de ter visto, alguma vez, algo parecido com:
SE VOCÊ ENCONTRAR UM BEBÊ ABANDONADO, DIRIJA-SE A TAL INSTITUIÇÃO OU TELEFONE PARA TAL NÚMERO.
Véspera de Natal, já noite, será que estão trabalhando a estas horas?
Celso, o marido, disse:
- Eu acho que é com a polícia. Vou ligar pra lá, se não for eles me informam.
Antes que ele pegasse, o telefone tocou. Era Mariana, sua irmã que queria falar com a Letícia. A família toda se reuniria dali a pouco para a festa de Natal.
Letícia atende apressada e distraída:
-Sim!
-Sei!
-Certo!
-Levo!
Desliga e pensa:
- Que foi mesmo que ela disse? Não consegui prestar atenção!
E volta-se para a bebezinha que, barriguinha cheia, dormia tranquilamente na sua cama.
E pensa:
- Ela parece tão feliz! Não lembra do que passou nem pensa no que passará ainda. Para ela só existe o momento presente que é de paz e tranqüilidade. Por que será que a gente não consegue ser assim, também?
Celso está no telefone:
- É da polícia? Minha mulher encontrou um bebe abandonado na rua. Trouxemos para casa e eu queria saber o que devemos fazer...
-Trote?!! Você acha que não tenho nada melhor para fazer num dia como hoje?
...
Desliga e comenta:
-Perguntou se não era trote. Disse que, se fosse, eu ia me arrepender. Imagine só!
Meia hora depois o telefone toca novamente:
Era da polícia. Queria confirmar a denúncia e pedir mais alguns dados. Eles deveriam ficar em casa e aguardar as providências.
As crianças rodeiam o bebê. O menorzinho pergunta:
-Será que não foi a cegonha que queria trazer a nossa irmãzinha e não achou a casa e dai o Menino Jesus fez a Mamãe achar ela na rua?
-Não, filho! A sua irmãzinha vem depois.
O outro diz:
-Vamos por um nome nela? Toda criança tem nome.
A Mãe sugere:
-Ela podia se chamar Benvinda.
O Pai ri:
-Coitada! Ela não foi bem vinda! A mãe jogou-a no lixo.
A Mãe repreende:
-Não fale assim! Nós não sabemos o que aconteceu. Não podemos julgar.
O telefone toca. Letícia atende. É a sogra:
-Vocês não vêm? Todos os outros já estão aqui e queríamos servir alguma coisa.
Letícia responde apressada:
-Estamos atrasados. Não esperem por nós que podemos demorar um pouco.
-Mas, afinal, o que aconteceu?
-Nada demais. Um pequeno imprevisto. Depois a gente conta.
-Foi alguma coisa com as crianças, não foi?
-Não, dona Geni! Não aconteceu nada demais. pode ficar tranqüila.
-Estão é Aparecida, Cidinha!
Letícia entra no quarto e ouve o fim da conversa.
-Ainda estão escolhendo o nome?
-Já escolhemos! É Aparecida, porque ela apareceu...
Depois de muito esperar chegaram um policial, uma assistente social e mais um funcionário para fazer a ocorrência e levar o bebê.
Mais perguntas, documentos, anotações. O policial pediu para ver a caixa onde o bebê estava.
-Jogamos fora. Achamos que não prestava para nada.
-Eu preciso levar para fazer a perícia.
O Celso vai lá fora, na chuva, e traz a caixa toda arrebentada e encharcada.
O soldado olha bem e resolve:
-Não precisa mais. pode jogar fora.
Avisou que, talvez, Letícia fosse chamada para prestar depoimento quando fosse descoberta alguma coisa sobre o abandono do bebe e, finalmente, chegou à hora de entregar a Cidinha para a assistente social.
Letícia sentiu um aperto no coração.
Como a gente se afeiçoa fácil a uma criança!
Achou a assistente muito rude. Pegou a Cidinha como se fosse um objeto qualquer, nem olhou para ela.
Letícia deu uma sacolinha com as roupas que ela estava, o leite, a mamadeira e as fraldas.
Ela relutou um pouco a levar:
- Não é preciso. Lá tem de tudo.
Mas, leve, para aproveitar. Daqui a pouco ela vai precisar trocar de fralda e a mamadeira foi dada há mais de uma hora.
Ela pegou de má vontade e saiu com uma despedida rápida.
Pai, Mãe e filhos ficaram no portão vendo o carro deles desaparecer na esquina e, então voltaram para dentro com um incômodo sentimento de perda.
-Ela é uma menina saudável e muito bonita, não vai faltar quem queira adotá-la.
-Certamente! As mães adotivas, via de regra, são excelentes mães.
-É verdade!
Letícia corre – corre entre o forno onde assa o peru, a mesa onde monta os canapés e os meninos que peralteiam a sua volta.
Olha para fora e vê que se aproxima um temporal. Já começa até a ventar e, então, lembra-se de que falta comprar umas coisinhas de última hora no supermercado a duas quadras de sua casa.
Sai apressada, quase correndo, pensando em ir e vir antes que a chuva caia, mas...
De repente vê a beira da calçada, em cima de um monte de caixas vazias, uma em que he pareceu ter alguma coisa viva dentro.
Pensou que fosse um cachorrinho ou um gatinho abandonado, aproximou-se e, qual não foi o seu espanto ao ver que era uma criança, que estava ali dentro, um bebê recém-nascido, bem embrulhadinho, parecendo ter acabado de sair da maternidade.
Ficou atônita, sem saber o que fazer. A rua estava deserta. Nesta nossa era de muros altos e portões fechados, nenhum sinal de vida nas casas ao redor.
A chuva começou a cair pesada acompanhada de vento forte, raios e até granizo e ela, apavorada, pegou a caixa e voltou correndo para casa.
Entrou transtornada e o marido brincou com ela:
-A chuva foi mais rápida do que você?
Colocou a caixa sobre uma cadeira e tirou o bebê que chorava.
Foi a vez dele se assustar:
-Mas, que significa isso?
Ela contou atabalhoadamente o que acontecera e perguntou:
-E agora? O que vamos fazer?
Mais calmo, ele respondeu:
-A primeira coisa e trocar a roupa dele. Se não vai ficar doente assim todo molhado da chuva.
Não tinham roupa de bebê em casa. O caçula já tinha quatro anos, mas foi com uma camiseta dele e uma toalha de banho que ela acabou agasalhando o bebe.
Enquanto trocava a camiseta, deu uma espiadinha e sorriu para o marido:
-É uma menina!
Eles tinham dois garotos e estavam pensando em completar a família no próximo ano, se possível, com uma menina, mas não pensavam em adotar.
O bebê chorava e ela achou que ele estava com fome, mas, como alimentá-lo?
O garotinho menor sugeriu:
-Dá uma bolachinha pra ela
O maiorzinho caçoou:
-Imagine se um bebê desses come bolacha! É melhor uma banana raspadinha.
Letícia resolveu o problema. Telefonou para a farmácia e pediu para mandarem, com urgência, uma mamadeira, uma lata de leite e um pacote de fraldas.
E agora? Que será que a gente faz numa situação dessas? Será que este caso é da alçada da polícia? Do juizado de menores? Do conselho tutelar?
Não se lembravam de ter visto, alguma vez, algo parecido com:
SE VOCÊ ENCONTRAR UM BEBÊ ABANDONADO, DIRIJA-SE A TAL INSTITUIÇÃO OU TELEFONE PARA TAL NÚMERO.
Véspera de Natal, já noite, será que estão trabalhando a estas horas?
Celso, o marido, disse:
- Eu acho que é com a polícia. Vou ligar pra lá, se não for eles me informam.
Antes que ele pegasse, o telefone tocou. Era Mariana, sua irmã que queria falar com a Letícia. A família toda se reuniria dali a pouco para a festa de Natal.
Letícia atende apressada e distraída:
-Sim!
-Sei!
-Certo!
-Levo!
Desliga e pensa:
- Que foi mesmo que ela disse? Não consegui prestar atenção!
E volta-se para a bebezinha que, barriguinha cheia, dormia tranquilamente na sua cama.
E pensa:
- Ela parece tão feliz! Não lembra do que passou nem pensa no que passará ainda. Para ela só existe o momento presente que é de paz e tranqüilidade. Por que será que a gente não consegue ser assim, também?
Celso está no telefone:
- É da polícia? Minha mulher encontrou um bebe abandonado na rua. Trouxemos para casa e eu queria saber o que devemos fazer...
-Trote?!! Você acha que não tenho nada melhor para fazer num dia como hoje?
...
Desliga e comenta:
-Perguntou se não era trote. Disse que, se fosse, eu ia me arrepender. Imagine só!
Meia hora depois o telefone toca novamente:
Era da polícia. Queria confirmar a denúncia e pedir mais alguns dados. Eles deveriam ficar em casa e aguardar as providências.
As crianças rodeiam o bebê. O menorzinho pergunta:
-Será que não foi a cegonha que queria trazer a nossa irmãzinha e não achou a casa e dai o Menino Jesus fez a Mamãe achar ela na rua?
-Não, filho! A sua irmãzinha vem depois.
O outro diz:
-Vamos por um nome nela? Toda criança tem nome.
A Mãe sugere:
-Ela podia se chamar Benvinda.
O Pai ri:
-Coitada! Ela não foi bem vinda! A mãe jogou-a no lixo.
A Mãe repreende:
-Não fale assim! Nós não sabemos o que aconteceu. Não podemos julgar.
O telefone toca. Letícia atende. É a sogra:
-Vocês não vêm? Todos os outros já estão aqui e queríamos servir alguma coisa.
Letícia responde apressada:
-Estamos atrasados. Não esperem por nós que podemos demorar um pouco.
-Mas, afinal, o que aconteceu?
-Nada demais. Um pequeno imprevisto. Depois a gente conta.
-Foi alguma coisa com as crianças, não foi?
-Não, dona Geni! Não aconteceu nada demais. pode ficar tranqüila.
-Estão é Aparecida, Cidinha!
Letícia entra no quarto e ouve o fim da conversa.
-Ainda estão escolhendo o nome?
-Já escolhemos! É Aparecida, porque ela apareceu...
Depois de muito esperar chegaram um policial, uma assistente social e mais um funcionário para fazer a ocorrência e levar o bebê.
Mais perguntas, documentos, anotações. O policial pediu para ver a caixa onde o bebê estava.
-Jogamos fora. Achamos que não prestava para nada.
-Eu preciso levar para fazer a perícia.
O Celso vai lá fora, na chuva, e traz a caixa toda arrebentada e encharcada.
O soldado olha bem e resolve:
-Não precisa mais. pode jogar fora.
Avisou que, talvez, Letícia fosse chamada para prestar depoimento quando fosse descoberta alguma coisa sobre o abandono do bebe e, finalmente, chegou à hora de entregar a Cidinha para a assistente social.
Letícia sentiu um aperto no coração.
Como a gente se afeiçoa fácil a uma criança!
Achou a assistente muito rude. Pegou a Cidinha como se fosse um objeto qualquer, nem olhou para ela.
Letícia deu uma sacolinha com as roupas que ela estava, o leite, a mamadeira e as fraldas.
Ela relutou um pouco a levar:
- Não é preciso. Lá tem de tudo.
Mas, leve, para aproveitar. Daqui a pouco ela vai precisar trocar de fralda e a mamadeira foi dada há mais de uma hora.
Ela pegou de má vontade e saiu com uma despedida rápida.
Pai, Mãe e filhos ficaram no portão vendo o carro deles desaparecer na esquina e, então voltaram para dentro com um incômodo sentimento de perda.
-Ela é uma menina saudável e muito bonita, não vai faltar quem queira adotá-la.
-Certamente! As mães adotivas, via de regra, são excelentes mães.
-É verdade!
Júlia, depois de andar sem destino por muito tempo sentou-se em um banco, na praça e começa a recordar:
Fizera tudo errado desde o começo. Sabia, muito bem, que não poderia ficar com a filha. Podia ter procurado desde logo quem quisesse adotá-la, mas, não, deixou o tempo passar, esperando que acontecesse o impossível, que alguma coisa mudasse e que ela não precisasse dar a criança. Chegou a hora. A filha veio ao Mundo, Júlia teve alta no hospital e saiu pela rua sem ter para onde ir, sem saber o que fazer e, num momento de desespero, resolveu deixaála naquela caixa para que alguém a encontrasse e lhe desse um destino.
Caminhou só, livre e solta, por alguns quarteirões, mas, quando começou a tempestade, lembrou-se da filha e retornou correndo para socorrê-la, mas... não a encontrou mais...