O Leão e o Vento
O Leão e o Vento
"O Leão" - Parte 1.
Fazia um tempo que não havia vontades, nem anseios, mas decidiu abrir o velho baú outra vez e lá estavam as saudosas memórias totalmente sujas e sobrevivendo sob a poeira. Uma vez mais se perguntou se estaria fazendo a coisa certa, que consequência haveria dentro si, por revirar um passado tão cheio de mofo. Mesmo assim, renegou os pensamentos, sentou-se ao chão e no remexer do passado, lá no fundo do baú estava uma de suas mais difíceis lembranças: “O Leão e o Vento”, como a intitulava. Estagnou-se, o espanto fez-se seu semblante e lá estava com lágrimas prestes a cair, lágrimas secas. O tempo passado parecia ter parado; parado até demais por que tudo era tão presente. Lendo as páginas iniciais, lembrou-se do momento em que se chamou de Leão, em que havia bravura e que nem um temor parecia afetar seu coração profundamente congelado! O tempo lhe deixou marcas tão aparentes que por dentro e por fora parecia o mesmo. Carrasco de si, carrasco do mundo... Um mundo esse que era tão só seu que a solidão criou alma, criou voz, criou vida – Diálogos.
Destituído de qualquer glória, nunca se mostrava enfermo dos pensamentos assim como nunca fez questão de buscar uma cura. O mundo de fora sempre foi tão mórbido, tão sem cores, tão vazio e o ócio sempre em constante atrito consigo, o fazia ser escravo dos pensamentos, ao mesmo tempo em que um observador faminto. Como um leão cheio de afoitezas, buscava sempre momentos oportunos para tragar qualquer fácil presa. Destemido leão, solitário de seus dias, cansado de lutas inglórias. De ser um ser só seu, por ser só seu. Memórias? Glórias? (...) Sempre consigo, o sentimento é apenas o mesmo e a decisão é de caminhar em frente. Carregando na mente a história de campos, batalhas. Tudo tem sido tão igual: Um jogo, uma vergonha...
(...)
Victor Cartier