ZÉ CARECA
ZÉ CARECA
Há mais de quarenta anos torna-se um pedaço do posto de gasolina da Av. D com a Portugal (Posto Alencar). Brincalhão e amigo de todos os clientes embora fosse deficiente auditivo o que o fazia portar um aparelho na orelha esquerda, e por causa disso a voz era falha como se viesse de uma taquara rachada. Talvez por isso brincava fazendo gesto e falando pouco.
Comigo ele passava a mão em seus poucos cabelo que lhe faziam uma coroa em volta da grande careca e falava:
- Quer uma muda de cabelo com “pila”...
Essa brincadeira tem para mais de vinte anos e se deve porque eu tenho os cabelos brancos e ele pinta a coroa que lhe resta. Um dia me falou:
- Porque não pinta os seus cabelos. E eu lhe respondi:
- Não sei onde comprar pilha usada que depois de aberta sai uma borra preta...
Daí para frente bastava ele me ver que falava com certa dificuldade repetindo o gesto de pegar em seus cabelos e balbuciar:
- Pila?...
Na sexta feira dia 27 de março de 2009, quando eu vinha do extra pela calçada do lado direito da rua fui surpreendido com uma chuva. Corri para o ponto de ônibus e me sentei ao lado de um senhor. Não havia percebido quem era. Quando dei por mim reconheci o Zé Careca. Ele não estava com seu jaleco do uniforme do posto, vermelho e preto com uma estrela no bolso esquerdo, emblema do posto.
Indaguei-lhe:
- O que faz aqui?
- Vou pegar o ônibus até a praça da bíblia de lá vou a Senador Canedo. Tenho uma mulher lá, vou visitá-la. Amanhã eu vou para o João Vaz onde eu tenho outra mulher.
- Você é abusado duas mulheres?
Percebendo que a chuva passara atravessei a rua e ao entrar olhei para trás e o vi sorrindo ao repetir o gesto de pegar no cabelo e me oferecer a “pila” dando um aceno com a mão...
No domingo a noite veio à notícia o “Zé Careca” foi atropelado por duas motos na subida da AVENIDA T-8 sentido Jardim América rumo ao Bar Pé de Galinha e veio a óbito.
Fiquei sem a minha “pila”, até mais amigo Zé.
Goiânia, 25/11/13.