Zildo e As Nuvens
Numa casinha de madeira cercada com árvores chapéu-de-sol, mora um menino chamado Zildo. O pai dele, Geraldo, é pescador e vive à espreita do mar, procurando o melhor momento para pescar. Em frente à casa do Zildo há uma praia, onde a água do mar é bastante azulada; de um azul tão bonito, tal qual azul celeste! Todos a chamam de Praia Azul pela linda cor da água que ela tem.
Vivem com Zildo, além do pai, também a mamãe e a irmãzinha e, no quintal, alguns bichos. Ele alegra-se em brincar com todos e observar, no jardim da sua casa, as plantas, formigas... Porém, sua preferência é mirar o céu, com insistência, procurando pelas formas que as nuvens nos mostram. E como ele gosta de ver o céu!
Num céu azulado com brancas nuvens, ele enxerga muitas coisas! Se está de manhã, a forma das nuvens lhe parece com bolinhos de mandioca e, se olha o céu perto do almoço, imagina nas nuvens um belo pedaço de peixe frito acompanhado de um bom tanto de arroz. Enfim, é seu hábito associar as imagens das nuvens com coisas que via ao seu redor, principalmente com a dos alimentos que gosta.
Um dia, Zildo viu seu pai sair de manhãzinha para ir pescar. Ele ficou tão curioso em saber como seu pai pescava que resolveu ir junto, mesmo sem avisar. E então, seguiu de longe os passos do pai até o local da pesca. Geraldo resolvera capturar peixes do outro lado da ilha, o qual fica a mais de dois quilômetros da Praia Azul. O local é um braço de mar onde alguns rios desembocam e formam, juntos com a água do mar, um ambiente que facilita a reprodução de diversas espécies de peixes, chamado de estuário.
Zildo ficou quietinho, atrás de alguns pequenos arbustos e perto de onde seu pai pescava, conseguindo espiar o pai em sua pescaria.
Geraldo era muito habilidoso! Quando ele jogava a tarrafa na água ela abria-se num belo círculo. A tudo Zildo assistia maravilhado, orgulhoso da eficiência do pai, julgando-se afortunado em tê-lo como seu pai; pensava naquelas tainhas guisadas, fritas, assadas... A tarrafa do Geraldo voltava respingando da água; algumas vezes, trazia peixes e noutras, Zildo observava a tarrafa vazia. E assim, ele passou boa parte da manhã olhando o pai pescar, chegando mesmo a cansar-se de tanto ver peixes!
Resolveu voltar para casa sozinho, pois lembrou-se de que não avisara a ninguém e, portanto, em seu coração, começava o receio pela inevitável bronca que tomaria. Sozinho, começou a resmungar para si mesmo:
— O caminho não é nem um pouco difícil! Vou pela margem e logo chegarei em casa... Ainda assim, vou levar bronca!
Ele estava um pouco assustado. E com certa razão, porque era a primeira vez que espiava o canal que havia do outro lado da ilha e, além do mais, estava sozinho.
Ajeitou seu boné, arrumou no bolso das calças as suas inseparáveis bolinhas de gude e começou o retorno. Uma parte do caminho era próximo da margem e Zildo aproveitava cada momento olhando os detalhes do canal. De repente, ele parou, amedrontado com o que vira. Ficou imóvel e em silêncio, totalmente surpreso!
No canal, rente a água, surgia uma saliência acompanhada de uma nadadeira em riste; ela voltava a afundar e depois ressurgia! Era uma corcova pequena e acinzentada, parecida com a de um casco de tartaruga marinha. Porém, era mais comprida e um tanto mais estreita. Imaginando o que seria aquilo, ficou hipnotizado pela beleza daquele bichão que nadava velozmente! Enquanto Zildo o via, o bichão seguia atrás das muitas tainhas que haviam no canal. Algumas tentavam fugir e saltavam muito alto, em busca do céu. E ele concluiu, então, que os desenhos que vira no céu, parecidos com tainhas, eram verdadeiros! Para ele, aquelas que conseguiram escapar do enorme bicho viravam nuvens.
Mais tarde, durante o almoço, enquanto saboreava um enorme pedaço de tainha frita (o que julgava uma benção dos céus), tanto pensou no "bichão" que resolveu contar ao pai toda história, mesmo correndo o risco de levar uma tremenda bronca. Seu pai o repreendeu porque ele fora sem avisar a mãe; em seguida, lhe explicou que o "bichão" é um boto e que ele veio ao canal em busca dos peixes que entraram para reprodução.
Zildo escutou e, logo depois do almoço, foi brincar com suas bolinhas no quintal. A explicação que seu pai lhe dera flutuava em seus pensamentos. Seus olhos, como de hábito, procuravam no céu as formas que as nuvens moldavam ao sabor dos ventos. De repente, viu algo que o impressionou! Algumas nuvens grandes "engoliam" outras pequenas!
De dentro da casa deles, Geraldo ouviu o filho gritar:
— Pai, veja aqui! Até no céu tem boto!