O CASAL DE ROCEIROS E A LANCHONETE
O Casal de Roceiros e a Lanchonete
“... é melhor deixar em fogo lento do que mexer na panela...” (Stanislaw Ponte Preta)
Na Feira livre de Paraguaçu Paulista, mais precisamente na Barraca do Sr. Alcides, não se encontra só café torrado e moído à moda antiga, pipoca, amendoim, alho e vassouras. Mais recentemente está abrigando um principiante grupo de contadores de “Causos”. Aqueles que não têm o dom de contá-los, têm uma sabedoria maior que é OUVÍ-LOS. Outro dia, um destes sábios (João Vanecho), que sempre esteve atento, não agüentou e mandou ver esta verdadeira preciosidade:
Nos anos 60, lá pras as bandas do Paraná, um casal de roceiros (já passados dos 50 anos de idade) decidiu deixar a vida de sacrifícios no sítio e mudar-se para a cidade. Venderiam as terras, uma parte botariam a juros “numa boa mão” (acho que nessa época ainda não havia caderneta de poupança) e o restante investiriam “num cumércio”. Procuraram uma cidade nem grande e nem pequena para irem se acostumando, sem nenhum choque social. Vale dizer que começavam a abrir, na época, as torneiras do êxodo rural (hoje não se usa mais esse termo), cuja conseqüência era o crescimento desordenado das cidades. Um corretor de imóveis logo farejou a oportunidade e ofereceu-lhes a ajuda necessária. Soube de uma lanchonete, um dos sintomas do inchaço das cidades, que estava à venda. O dono, como infinitos hoje, estava insatisfeito com o movimento. Vender como? O novo proprietário não investiria sem antes ver como o negócio estava funcionando. Foi aí que o corretor teve a “FELIZ IDÉIA”: Convida todos os poucos freqüentadores somados aos demais amigos, conhecidos, vizinhos, parentes e penetras (que nunca falham) para “uma noite de boca livre”. Contrata também um conjunto com um bom sanfoneiro, uma viola e um violão. Vai ser uma propaganda da firma... O segredo está em não deixar vazar a informação das verdadeiras intenções. O convidado de honra será casal pretendente à compra. Sábado, noite de calor, brindado com uma enorme Lua Cheia. O acontecimento foi um sucesso. Tudo regado à Cerveja, lombinho frito, torresminho, “churrasquinho de gato” e todos os outros ingredientes para saciar o mais mesquinho pecado da gula. O casal demonstrava felicidade, certamente pela recepção que a vida na cidade a eles proporcionava. O corretor, principal interessado, estava felicíssimo, não só pelo lucro da venda, mas também porque poderia estar ali, descobrindo um novo nicho publicitário. Sentou-se à mesa do casal fazendo com que o ambiente ficasse o mais prazeroso possível. E como se não quisesse nada, mandou a pergunta com sabor de golpe de misericórdia: E daí??? Acha que já dá para fechar negócio? A resposta veio segura, mas recheada de conteúdo desastroso:NÓIS NUM VAMU COMPRÁ ... NOIS JÁ TÁ VÉIO E NUM IA GUENTÁ ESSE MUVIMENTÃO. (oldack/14/02/011). Tel. (018) 3362 1477.X