JOÃO COITADO O SEU PRÓPRIO JUIZ

Decidi dar uma trégua ao meu compadre, e não mais procurá-lo. Depois que ele me embrulhou, vestiu e comeu as minhas custas e desapareceu. Findou a semana sem que ele aparecesse no trabalho. Embora eu passasse de carroça diariamente defronte ao seu casebre transportando o leite a ser recolhido por um caminhão na fazenda vizinha. Não o vi mais. Na semana seguinte nos quatro primeiros dias ele não apareceu não deu sinal de vida.

Sexta feira bem cedinho enquanto eu executava minha tarefa ordenhando as vacas, ao despejar o balde de leite no latão sobre o girau no canto do curral, deparei-me com seu par de olhos avermelhados olhando-me por entre as réguas da cerca. Com a cara de macaco ferido a chumbo, e seu semblante de João Coitado. E trajando a muda de roupa que lhe doei.

- Bom dia compadre o que isso homem que sujeira danada, essa roupa não está acostumada com tanta falta de higiene assim não. Você tava furando cisterna ou buraco de forno em carvoaria?

--Uai cumpade da até vergonha de ieu contá, ma indesde aquele dia a muié num lavô as ropa La de casa!

Qual dia compadre-, o dia que você me fez de bobo levando almoço para você que se escondeu para não trabalhar, depois foi La e passou o caldeirão de bóia no papo?

--Uai cumpade socê levô a bóia foi mode ieu cumê ieu maginei qui numa era durda ieu cumê, a dispois ieu tava suzinho incasa a muié tinha ido pra casa da tia cunforme ieu te contei.

--Você não fica nem um pouco envergonhado? Pense bem no que tem feito comigo ultimamente, volte no tempo e veja como você estava no dia que veio me pedir ajuda, e não teve coragem voltar ao Engenho nem para buscar sua mudança. Já pesou nisso?

--Ah cumpade pobre se tivé vergonha num vive não. Ieu-, vim mode sabê qui sirviço qué mode fazê hoje, ieu tenho qui trabaiá hoje amanhã, de carqué jeito, La incasa ta disprivinido de tudo, mandei a muié pra casa do pai dela, mode ela mais os minino cumê purlá, pezar dele chingá nois, ma fazê o que. Dumingo quero cocê mimpresta à carroça mode ieu i buscá ma os minino, e fazê ua cumprinha, ah ieu quero cocê arruma omeno três dia da semana qui entra adiantado sinão num dá mode ieu compra nada só quesses dois dia, de hoje e amanhã qui vô trabaiá.

--Você disse que não tem nada em casa vai comer o que no trabalho?

--Uai o jeito ocê mim dá cumê, nois passô a semana cumeno bacaxi, ieu já num guento mais, ieu to podeno nem vê mais bacaxi na minha frente.

-Então ta difícil o que tem de abacaxi por ai plantado pelo João Zueira, você vai ter de andar de olhos fechados.

--Ah to falano assim, ma mar dieu se num fosse essa doidera dele prantano esse cipiu de bacaxi tem valido nois de mais, se furá ni nois é capais de vaza bacaxi.

-- Olha compadre eu não dizer mais nada a você, com respeito ao seu procedimento porque já vi que é perda de tempo. quem vai decidir sua situação a partir de agora é você. Sua maneira de agir será seu juiz, vá se juntar a turma lá na roça depois eu te levo o almoço!

Ah mais dispois ieu quero sabê qui mixida é esse negoço de juiz cocê falô queu num intindi foi nada.

--Tudo bem depois eu explico agora vamos cuidar de nossas tarefas.

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 19/11/2013
Reeditado em 19/11/2013
Código do texto: T4577558
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.