A CASA DE DEUS

A CASA DE DEUS

Miguelzinho era novo na rua. Espiava curioso pelas frestas da madeira de seu portão, todos os movimentos que seus olhinhos podiam captar. Sempre acabava na direção da igreja que estava sempre fechada. Certo domingo, ele implorou a sua mãezinha várias vezes: - Me deixa ir lá à igreja. Mãe, lá tem muitos meninos para brincar, lá tem muca. Falava e ao mesmo tempo rogava com as mãozinhas unidas que a mãe resolveu satisfazer sua vontade.

Naquela tarde antes do culto começar, ela deu banho no filho, vestiu-lhe umas roupas bonitas, perfumou-o e foi com ele até a igreja que ficava no outro lado da rua. Entrou, sentou-se nos últimos bancos com medo das pessoas que lá estavam. Ela nunca entrara em uma igreja daquelas, não sabia como seria recebida. Assistiu ao culto, e ao final quando já estava indo embora com Miguelzinho pela mão, recebeu o convite de um membro ativo da igreja. – Volte mais vezes, irmã, vai gostar de nossa igreja. É simples, porém muito acolhedora.

Miguelzinho ficou radiante, e todos os domingos pedia para a mãe leva-lo a casa de Deus. A mãe para fazer-lhe a vontade, contrariando sua própria religião, levava-o sempre e o menino voltava sempre feliz para casa. Passaram-se dois meses, Miguelzinho já sabia até cantar alguns hinos e já possuía uma minúscula bíblia que fazia questão de abrir e fingir que lia, enquanto os outros acompanhavam o pastor.

Estava feliz, sentia-se como se estivesse realmente no céu, como um anjo, um querubim no Paraíso. Certo sábado, foi convidado para participar de uma pequena festinha no andar superior da igreja. Sua mãe antecipadamente foi até a secretaria da igreja informar-se sobre o que era preciso levar para que o filho participasse da pequena comemoração.

No sábado na hora prevista, Miguelzinho seguiu para a igreja com sua mãe que o deixou lá com alguns amiguinhos. A festa ainda não tinha começado, e a mãe de Miguelzinho escutou a voz do menino chamando-a no portão em prantos. Ela abriu o portão e viu assustada, o menino aos prantos, numa crise de nervos, sem poder falar direito. Aos poucos, conseguiu acalmá-lo e ouvir o que o filho lhe contou: - Lá não é a cada de Deus, como eles falam. A mãe perguntou curiosa: - O que aconteceu? , apontando com o bracinho em direção a igreja ele falou ainda em soluços: - Eles ficaram com o lanche que eu levei, e me mandaram embora, disseram que eu não posso participar da festa, pois eu não sou da igreja, lá não é meu lugar, porque eu sou de outra religião. Mãe a igreja não é a casa de Deus? Mãe Deus não gosta de mim? O que eu fiz de errado? A mãe de Miguelzinho limitou-se a dizer-lhe: - Hoje você não pode ir lá, amanhã vamos a nossa igreja, está bem? Miguelzinho foi dormir chorando, e jurou nunca mais por os pés naquela igreja.

Aradia Rhianon
Enviado por Aradia Rhianon em 15/11/2013
Código do texto: T4572462
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