JOÃO COITADO E SEUS BOTÕES PERDIDOS

S

Por mais que eu tentasse, estava difícil não perder o controle diante da falta de empenho de meu compadre João. Faltoso no trabalho eu o procurei:

-- O que aconteceu compadre? Você não apareceu no trabalho, acaso esta está doente?

-- Minha camisa ta sem Butão, ieu comprei mais a muié discuidô os mininos pegaro ez pamode brinca e sumiu tudo, num teve jeito deu i pu sirviço.

--E esta camisa que está vestindo?

--Ma ela quessa carça é ropa duminguera mode o dia diieu vê Deus! A zota ropa ta tudo chuja, num tem jeito mode ieu i trabaiá não. Amanhã a muié vai lava as ropa se inchugá a tempo dispois da manhã ieu vô cum certeza. -- Muié taveno cocê feis curpa sua de mun lavá a ropa ieu to perdeno o sirviço!

--Uai ma ocê memo falô mode ieu dexâ protodia mode nois canta um uas moda de viola junto e dispois nois i passiá na grota mode fazê bobage iscundido dos minino, ocê isqueceu agora qué pô curpa nieu!

Nossa estrada de acesso ao Engenho passava na porta do seu casebre e adentrava o cerradão propriedade de Zé do Déco dando uma enorme volta para tomar a direção do povoado. Ciente de nossa dificuldade sendo ele um excelente vizinho, muito prestativo nos ofereceu para traçar uma picada no cerrado atalhando a estrada quase meia légua. E para executar esse trabalho eu contava com meu compadre João e outro dos agregados que nos prestavam serviços. Como ele me afirmou que não tinha roupa para trabalhar. Dirigi até minha casa apanhei uma muda de roupas, embora eu também não tivesse tanta roupa de trabalho disponível. Levei a ele:

--Aqui compadre resolveu seu problema está aqui sua roupa para o trabalho!

Ma é dado oh imprestado?

--É dado sim amanhã o compadre Geraldo passa por aqui bem cedo e você o acompanha para abrirem uma picada no cerrado logo acima daqui, ele saberá te indicar o que deve ser feito.

-- Ah ma tem um pobrema amanhã a muié vai ma os minino passiá na casa da tia dela na extrema, ieu num tem quem fais o cumê não.

Eu quase me enfartei de raiva, mas me contive cruzei o dedo respirando fundo eu disse: tudo bem compadre você pode acompanhar o Geraldo, assim que eu desocupar do curral, eu venho os ajudar e trago seu almoço. –

Intão ta bão, ieu vô cum certeza!

No dia seguinte logo que desocupei do curral, após o almoço que por sinal era antes das nove da manha, hora costumeira da roça. Apanhei sua comida num caldeirãozinho esmaltado e fui me juntar a eles para executarmos tal trabalho. Quando lá cheguei nada de João. Perguntei meu compadre por ele, ele me respondeu que ao passar por seu casebre não tinha nem sinal dele. Pendurei o caldeirão de almoço numa galhada de arvore, peguei na roçada ao lado do companheiro a tarde com o serviço quase concluído voltamos pra casa fui apanhar o caldeirão de bóia do qual nós havíamos nos distanciado mais de dois quilômetros. Pedi ao colega para apanhá-lo, brincalhão como sempre fora, ele, caiu na gargalhada:

--Tá rindo que compadre?

--Ocê num vai acreditar o João veio aqui comeu a bóia toda e parece até que lambeu o caldeirão!- Amanhã eu num vô trabaiá tamem não quero ropa limpa e bóia pronta mais ocê leva pra mim La in casa pra ieu num tê trabaio de vim cá busca. Já cocê num importa de trata de nois sem trabaiá ieu tamem quero cumê atoa a sua custa.

/ Para a semana contarei mais/

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 11/11/2013
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