TRANCA RUA
TRANCA RUA
Familiarmente ficou assim conhecida pela penca de chaves que trazia em seu chaveiro, era tantas chaves que se fosse contadas de uma a uma passaria de cem unidades.
Ela tem a maninha esdrúxula de trancar tudo. Vez por outra surta com o marido por coisas banais, toma-se aqui o atalho da bizarrice.
O sonho maior dela é trancar o marido dentro do armário e liberta-lo nas horas da precisão. Não são naqueles momentos que você está pensando não caro leitores. Precisa-se do marido para fazer qualquer coisa insignificante, pega do chaveiro centopéia e abre o armário onde tranca o marido falando com voz deveras até melosa:
- Benhê vá ao banco e faça o deposito desse cheque. Benhê vá a farmácia da esquina e me compra um Dorflex.
Basta o marido voltar ela lhe mostra o caminho do armário e pronto, tá dominado.
O coitado nem pode assistir a TV, pois no pensamento dela ele sempre está cometendo alguma asneira. Foi assim com a cantora da missa: Ce tá apaixonado pela loirinha, confessa.
Ou outra como eu vi seu malandro apaixonou pela filha caçula do OPASH (dos Caminhos das Índias), mostra o armário e lá vai o marido ficar de castigo de novo.
Durante um surto no dia 13/07/09, não sei porque foi no dia 13, dia consagrado no anedotário popular como o dia das bruxas, ela viu o marido fugindo do armário e caminhando para o lado do EXTRA, no imaginário dela o reduto predileto de todas as loiras falsas ou legitimas.
Como ela havia demonstrado sinais de surto eminente,
O marido que conhece a fera, passou o cadeado em um portão que divide os dois reinos, o dele e o dela, sempre quando estão em conflitos.
Então ela trancou o portão também do lado dela e escondeu a chave em algum esconderijo secreto. Saiu pela porta da frente, como boa tranca rua, trancando-a também. Ah ela estava de camisola ou algum traje que o valha, dirigindo-se ao estacionamento pegar alguns barbicachos de menos importancias. Quando ela voltou pela porta da frente ela não quis abrir. A fechadura rebelou-se contra a tranca-rua, e a porta dos fundos trancada com dois cadeados também não poderia ser aberta.
Foi o feitiço voltando contra a feiticeira. Daí para frente o surto foi aumentando de gravidade, ela gritava, espumava pelos cantos da boca, xingava palavrões, trovejava, relampejava...
O marido NEM SE LIXANDO, caminhando com os passos de quem nem quer chegar vinha saboreando uma deliciosa mexerica, que antes dele atravessar a avenida se acabara e ele com toda a paciência do mundo descascou outra e aproximou do entroido verídico, chupando-a.
Os nomes, prenomes e apelidos impublicaveis, rasgaram o céu dantes dominado por um azul claro encaminhando ao azul noturno.
O escândalo generalizado partiu aos quatro cantos só acalmando quando se arrombou uns dos portões e a "tranca rua" com seu chaveiro adentrou a casa em silêncio, pois todo o seu estoque de palavras, como se fosse possível, acabara...
O episódio passou a mais de uma semana e ela continua em estado de surto...
Goiânia, 27 de fvereiro de 2011.