VIAGEM A CAVALO
VIAGEM A CAVALO
VIRGULA 18
O assovio do Sr. Altair corta o céu azul naquela tarde de outono chamando as três filhas,
esparramadas pelos recônditos daquela pequenina aldeia; já no terceiro toque todas elas encontravam-se na soleira da porta, ofegantes, o respeito naquele sinal era sagrado. De certa feita a Das Graças, não o ouviu, portanto além da surra, ficou no pior castigo que lhe poderia acontecer, ficar uma semana sem colocar a cara pela porta da rua. Imagine o sofrimento, ela que era rueira inveterada. Todo esse alarde era uma preliminar de recomendações. Ele prepara-se para fazer mais uma viagem a Itaberaí, a cavalo, escalando como companheira da empleitada Gema que esta de férias escolares, respondendo com um sorriso largo de satisfação, correu à confirmar com sua mãe do evento que acabara de conhecer.
- Isso mesmo minha filha, é aniversário de sua tia dona Adoniana, seu pai que fazer uma surpresa a ela.
- Queremos ir, queremos ir... (Ouviu-se em coro das irmãs falam juntas).
- É uma viagem cansativa, vai uma só, vocês esperem, nas férias iremos para fazenda do Tio Esquival.
No outro dia bem antes do sol raiar, quando a lufada fria de vento marcava presença Altair campeava o cavalo baio Corisco, com um punhado de ração na palma da mão:
- Chô, chô, chô, vem cá seu filho duma égua. Venho logo porque nós temos muita poeira para comer. O animal pressentido que era seu dono que ali estava facilitou as coisas para que fosse encabrestado, ao tempo que o homem pensava, é mesmo um belo animal irracional, porque se tivesse consciência de sua força, não deixava ninguém monta-lo.
Baixeiros e arreio colocado, estribos no lugar, puxou-o até a cancela, após trespassa-la, montou-o saindo num trote cadenciado dirigindo para a sua casa, pela rua cumprimentava os primeiros concidadões imbuídos de iniciar mais uma labuta diária. Ao chegar penetrou casa adentro junto com os primeiros raios de sol , após ter deixado o cavalo amarrado nos troncos que utilizava ao ferrar os animais.
- Bom dia dona Das Dores
- Bom dia meu marido, muito cuidado principalmente com nossa filha que é muito fraquinha, digo doentinha, bem não sei o que dizer, cuidado com as cobras e com a cachaça.
- Tudo bem o café está pronto.
- Sim não só o café, bem com a farofa de frango, a paçoca, a rapadura está no embornal, a traía para coar café também.
A preparação era muito bem cuidada, a viagem demorava dois ou mais dias, mas era este a maneira mais barata que se tinha para empreender tal viagem. Despedidas feitas. Beijinhos aqui e ali, pegaram a estrada rústica, resquícios deixados pelos intrépidos bandeirantes, cruzadores que eram daquelas paragens auríferas, ligando Palmeiras, Anicuns, Olhos-Dágua, Itaberaí, Goiás, Inhumas. Era um labirinto de trieiros, demandava-se experiência, pratica e principalmente noções de localização para percorre-los sem erros. A paisagem deslumbrante, a relva deixava evaporar água, nos primeiros contatos com o sol, a impressão ótica que se tinha era que debaixo do chão estava tudo pegando fogo, os olhos da menina se encantavam com tanta beleza, o fenômeno da evaporação era também verificado nas travessias dos córregos, regos e riachos, principalmente porque o animal tinha que atravessa-los, muitas vezes a nado.
Os ponteiros do estomago assinalavam a aproximação do meio-dia era hora de parar, bastava para tanto chegar próximo de algum lugar aprazível, sempre a beira de alguma corredeira de água potável e cristalina, tão abundantes por aquelas paragens. Parava-se, apiava-s e, improvissava-se com pedras um fogão alimentado por gavetos colhidos ali mesmo, merenda pronta, inclusive com café indispensável para o Sr. Altair, onde as iguarias eram saboreadas sob a sonata da natureza, grilos, fogo-apagou, bem-tivis, passo-preto, uma sinfonia que os ouvidos do matuto jamais esquecerá.
Levantado o acampamento, animal e pessoas refeitas, aperta-se o passo acelerando o trote, fazia necessário chegar ao pouso ainda de dia.
Goiânia 17 de outubro 2008.
09/11/13.