A JARDINEIRA E O SERTANEJO
É muito comum achar que Sertanejo era o indivíduo que derrubava as matas, abrindo o Sertão para os roçados, criando e desenvolvendo os povoados. Sou mais genérico. Sertanejo era o morador dos Sertões. Fosse ele o vendeiro dos pequenos patrimônios, o motorista dos “carros de praça” (taxistas) ou então, como vai referir nosso “Causo”, dono da “jardineira,” como eram chamados os pequenos ônibus da época, que levavam os moradores da roça pra cidade. Segunda feira e Sábado eram os dias de maior movimento.
Quero me lembrar, com muita saudade e gratidão do Seu Antonio Casanova que adquiriu a linha de Jardineira que ligava o “Panema” (Água da Areia) a Paraguaçu Paulista, em 1 947. Homem rude, mas de coração terno que dava carona às crianças que iam a pé, 3 ou 4 Km. até a Escola, no patrimônio de Roseta . Tinha uma preocupação maior por este escriba, por portar uma deficiência (seqüela de poliomielite) na perna direita. Apesar da “alma boa” era famoso por ser desbocado. Não escolhia platéia, hora e nem local para exprimir seus sentimentos. Como recurso didático sempre usava palavrões de causar rubor em Nelson Rodrigues. Os homens se admiravam, as mulheres mais liberais, como D. Duzília do Mané Barbosa, riam muito e as mais conservadoras, como a Tia Joaninha, detestavam e faziam o sinal da cruz. A Jardineira saia de Água da Areia às 5 da manhã, passava por S. José das Laranjeiras, Anhumas, Maracaí, Roseta, Conceição do Monte Alegre e chegava a Paraguaçu Paulista às 10:30h. O motorista proprietário da linha (Seu Antonio Casanova), era assessorado por cobradores escolhidos com o mesmo perfil do chefe. Tinha a fama de nunca falhar (de segunda a sábado) e muito menos de atrasar. Precisamente entre 09h25min. e 09h35min. a Jardineira do Casanova passava em Roseta.
Certa feita, em 1964, estava eu indo pegar o trem pra Rancharia em Paraguaçu e ele atrasou. Preocupado com atraso, atravessei a ponte do Rio Capivara, para tentar uma carona fora do ponto onde tinha muita gente. Já eram quase 11 horas, não tinha passado ninguém pra servir de carona e eis que de repente lá vem o famoso veículo todo meio devagar. Tinha estourado a bomba de gasolina e o nosso herói tinha feito uma “gambiarra”. Tirou o capô do motor que ficava no mesmo compartimento dos passageiros e colocou gasolina numa lata de 20 litros. Com auxílio de uma mangueirinha o cobrador sifonava o líquido e deixava cair no carburador. Funcionava mal, mas funcionava. E assim a condução ia andando. Nos balanços dos buracos, caia líquido na hélice e pulverizava os passageiros. Ai o sábio condutor advertia: “ SE ARGUÉM RISCÁ UMA BINGA NÓIS VAI TUDO PRÔS INFERNO”. (Oldack/17/04/011).Tel. 018 3362 1477X