As galinhas gigantes de João Pica-pau

João Pica-pau é um famoso contador de causos da região do Rio Paranaíba, em Goiás. Ele mora numa fazenda no sul do estado. Mas, quando aparece na cidade, todos que já conhecem sua fama, o cercam para ouvir suas histórias. Não o conheço, pessoalmente, mas quando me contam seus causos me ponho a relembrá-los e, claro, adoro contá-los. Só que, a cada vez que eu os conto aumento um ponto, e acabo pegando carona nas suas historias. A seguir vou contar um causo dele, que ouvi de meu cunhado.

João Pica-pau contou que certa vez resolveu criar galinhas gigantes em sua fazenda. Contava apenas com a experiência da mulher em lidar com galinhas, patos e perus. Ele cuidava dos porcos e do gado. Mesmo assim, acreditavam que não seria difícil e nem diferente da criação das outras aves. Compraram dez galinhas gigantes. Daquelas de metro e meio de altura. Eram aves bonitas, muito pesadas, boas de carne e com grande habilidade para botar ovos. Reformaram o galinheiro e todos os dias, sua mulher tratava-as, alimentando-as com milho e resto de comida, não descuidando também da água.

Passadas três semanas, uma delas deitou para chocar. Fizeram um ninho no galinheiro e o encheram de ovos. A galinha passava a maior parte do seu tempo deitada, chocando. Sua mulher deixava a comida perto dela e ia embora. Até que numa manhã, ao levar comida para as aves, ela notou que algo estranho estava acontecendo com a galinha gigante choca. Havia um problema na sua asa direita. Alem disso tinha dificuldade para levantar e andar. A galinha andava como se estivesse carregando um peso na asa.

João estava na varanda da casa quando ouviu um grito. Era a voz de sua mulher.:

- Marido, venha aqui depressa!

Rapidamente pensou que algum bicho tivesse atacado as galinhas ou alguma tivesse sumido ou morrido. Pensamento que se dissipou quando ao invés da noticia de sumiço ou morte, sua mulher apareceu e avisou que a galinha choca tinha alguma coisa esquisita na asa, e pediu que ele fosse ao galinheiro e desse uma olhada, pois a galinha estava andando torta com a asa caída.

João foi ver o que se passava com a galinha gigante par tentar saber o que estava acontecendo com ela. Mal chegou ao galinheiro, um cheiro de mel de abelha invadiu seu nariz e viu abelhas voando ao seu redor. Com todo cuidado aproximou e viu que as abelhas saiam de baixo da asa da galinha que estava deitada. O que estaria acontecendo? Jogou um punhado de milho para atraí-la. Quando ela se levantou e começou a andar torto, ele notou que uma das suas asas estava pesada, pendia para baixo. Percebeu e entendeu a preocupação da mulher. A galinha estava mesmo doente .

Entretanto, ao chegar mais perto dela, e suspender sua asa para examinar com mais detalhe, verificou que havia alguma coisa pregada nela. Foi aí que descobriu que tinha uma enorme colmeia presa na asa da galinha, por isso ela estava tão pesada e caída. Eu não acreditei no que meus olhos viam, disse ele. Fiquei parado feito um poste, espantado.

Mesmo não acreditando, peguei a asa da galinha com as pontas dos dedos, suspendi e vi os favos de mel. E então, vi que se tratava de umas inofensivas abelhas sem ferrão. O caso era menos grave do que supunha, não carecia de tanto alarido. Quando as pessoas lhe perguntaram o que fez. Ele, num sorriso aberto respondeu:

- Eu sei que vocês vão pensar que é tudo mentira, mas posso assegurar que é tudo verdade. Espantei as abelhas, tirei o mel. Enchi setenta e oito garrafas.