OS CONTADORES DE "CAUSOS" E A HISTÓRIA
"...quem conta um conto, aumenta um ponto..."
"...quem conta um conto, aumenta um ponto..."
Sempre que me apresento nas escolas, os alunos acabam me perguntando como é que apareceu a atividade de contar "Causos", e então dou minha versão sobre o assunto, baseado naquilo que aprendi sobre comunicação no Curso Clássico, subdivisão do antigo Colegial, hoje Ensino Médio.
A atividade surgiu com o aparecimento da comunicação oral pelo gênero Humano. As experiências sempre eram transmitidas boca à boca e daí iam alimentando, com conhecimento, as gerações mais novas. Fazia parte das tradições irem passando aos demais as experiências positivas e negativas de seus sucessos e fracassos. A própria Bíblia não fica fora desta regra. O Velho Testamento que o diga. Não foi a Educação que levou ao desenvolvimento o hábito de contar estórias. Muito pelo contrário. Foi o hábito de contar estórias que levou ao desenvolvimento da Educação. Contar estória constitui-se na primeira grande ferramenta da evolução da Educação. Foi tão eficaz (as parábolas dos Novo Testamento que o digam) que ainda hoje constitui um de seus principais recursos. E quem eram os contadores de estórias? Todos. Este era o primeiro e único meio de transmissão de conhecimento. E transmitir conhecimento sempre fascinou e ainda fascina o Homem. Rubem Alves chegou a pensar em montar um curso de "Escutatória", uma vez que só existem, até então, cursos de oratória. Conhecedor que é da paixão do Homem pelo FALAR , achou que o curso seria um fracasso e deixou o empreendimento pra lá...
Vamos deixar a História das estórias e procurar ver como se comporta um contador de "Causos". O nosso herói nunca planeja com antecedência aquilo que vai contar. Deixa sempre ao alcance da memória um recurso pra ilustrar um assunto que está desenvolvendo. Não raro costuma usar um "Causo" para esclarecer outro "Causo". A criatividade é um condimento que não pode faltar neste prato. E não pode ser pouca. O uso do corpo é outro recurso que não pode ficar de fora. Gesto, entonação de voz etc. Meu avô português, (um exímio contador de "Causos") quando narrava uma briga, os vizinhos corriam para apartar a pendenga e depois ficavam que nem cachorro que corre atrás de caminhão e este pára... Outro recurso é a crítica. Esta aparece sempre de forma sutil, pra não perder de mira os objetivos devido ao uso de uma ferramenta inadequada. Por exemplo nunca diria: O Presidente Lula "chutou"que a crise econômica era uma marolinha e depois ficou morrendo de medo de que o resultado fosse bem pior do que esperava... Mas diria: Um rei de um país com vocação pra Reino Encantado, diante da ameaça de um furacão, acalmou a população dizendo que se tratava de uma cálida brisa marítima, bem maior do se havia imaginado...
Hoje, quando os jovens se queixam de que os pais não têm tempo pra eles devido ao corre-corre imprimido pela sociedade de consumo, estão simplesmente reivindicando aquilo que a História lhes legou por Direito Universal: o diálogo...(Oldack/04/02/010)X