Marina Que Não Amava Pouco
Era uma vez Marina que pensava amar demais. Amou uma, amou duas, amou três e amou quatro. Mariana amava amar, e amava como ninguém! Quando a luz de cada amor desvanecia ela partia para o próximo, a pequena não perdia tempo. E quando se doía pela perda de afeto de um dos seres amados-idolatrados, ou simplesmente percebia-se em alguns minutos de solidão: era o fim! Trancava-se no quarto e ouvia de Roberto Carlos a Odair José enquanto se acaba de chorar, morder o travesseiro e espernear. Quando por fim se aliviava, recomponha-se diante do espelho, sorria feliz da vida e dizia a si mesma num suspiro – Eu amo demais!.
Então Marina amou a quinta, pobrezinha. Ah, mais uma vez aquele tango gostoso, em que quando um avança o outro recua, e assim mantêm o ritmo... Como sempre inconseqüente, Marina atirou-se na dança/guerra completamente desarmada e despreparada. Ofertou-se por inteiro sem zelo nem pudor. Permitiu-se. Deixou-se. Largou-se. Esqueceu-se. Mas, mal sabia Marina que o amor é uma faca de dois gumes e o destino às vezes pode ser traiçoeiro e melindroso. Ela gosta da palavra “melindroso”.
Como é de se esperar em todos os romances da vida real, o amor de Marina findou-se e o amado escafedeu-se. Viu-se assim, sem a tão viciante droga que a alucinava e a mantinha ultra-viva, exultante, excitada. E então desiludida, acabada, abandonada e liquidada esperou a noite cair, pôs no pé um sapato de strass dourado e decidiu sair a procura de sua sexta temporada. Não encontrou. Nem na noite seguinte. E nem na outra, e nem na outra, nem na outra... Sempre só nos balcões dos bares, com expressão taciturna e maquiagem pesada.
Dizem que morreu de overdose na calçada de algum bar, e que nessa mesma calçada talharam com um canivete “Aqui jaz Marina Mal Amada de Moura Moreira, que pensava amar demais. Amou uma, amou duas, amou três e amou quatro. Amou cinco e então não amou mais.”