JOÃO COITADO O LAVADOR DE CUECA
JOÃO COITADO LAVANDO A CUECA
Encerrado o episodio da galinha surrupiada, que levou meu compadre a se mudar. Encorajado ele decidiu que no fim da semana voltaria ao Engenho. Alegando uma saudade imensa da mãe pediu-me um cavalo emprestado para visitá-la.
-- Olha compadre o cavalo não é problema posso emprestá-lo. O empecilho que há é a malvada da pinga que você não consegue fugir dela.
Uai cumpade ocê num confia memo nieu né sô ocê pricisa mim da chance mode ieu prova procê qui to mudado.
Ieu num vô bebê te prometo, memo se bebesse num ia tê pirigo nium tô custumado rasga bêbido de bicicreta de cavalo é muita mais mió. Mais ocê fica asussegado num vô bebê dijeito nium memo.
Se cachaça com bicicleta é perigoso compadre com um cavalo é muito pior, mas pode preparar te empresto o animal. Aquela nossa prosa gerou nele certa expectativa, e motivado pela viagem ele não faltou ao trabalho. No sábado recebeu seu salário semanal e se foi, segundo afirmou, ao encontro da mãe.
Meia noite eu acordei ouvindo gritos e tropel de cavalo em m disparada. Pareceu-me que alguém estava sendo arrastado pelo animal. Apavorado imaginando mil coisas corri ao seu encontro.
Embora minha residência situasse a apenas trezentos metros defronte a sua, teria eu que andar quase um quilometro contornando a cabeceira do córrego que era intransponível pelo atalho.
Ao chegar a sua residência deparei-me com o cavalo a frente de sua cabana e ele deitado dentro de uma cratera, ou seja, o buraco donde amassamos o barro para construir o casebre.
Parecia desfalecido pálido e gelado embora estivesse um calor insuportável. Sua esposa acostumada com suas bebedeiras com toda calma disse:
-- Larga ele aí mode ele miorá dispois ele vem pra dentro,quando ele tá drumino assim mió é larga mão, El vai corda só amanhã.
Peguei-o pelas costas o coloquei de pé, ele despertou com os olhos esbugalhados parecia estar possuído.
-- larga ieu, me larga, larga ieu, ondé cotô, ondé cotô?
- Disparou de marcha à ré ladeira abaixo, a mulher apavorada gritava:
-- Acode El cumpade vai caí no corgo, nossa mãe do céu vai caí no corgo!
-- Calma comadre da cerca de arame ele não passa são cinco cordas bem esticadas. De fato ele só parou engastaiado na cerca cinqüenta metros abaixo na beira do rego d’água que margeava a estrada. O apanhei pelo braço, comecei a rebocá-lo ladeira acima.
-- Vamos pra dentro de casa compadre, você carece tomar um chá amargoso, mas nesta hora ele soltou o choro.
-Larga ieu, qui ieu caguei tudo, tô tudo borrado larga ieu!
-- Não sei o que havia ingerido para provocar tanto mau cheiro!
Bateu - me um fedor horroroso nas narinas, falei para a comadre:
-- Tome conta ele é todo seu, e até nunca mais se bêbado ele estiver! Apanhei o cavalo vitoriei a sela com luz de uma lamparina, constando que não havia merda nela voltei para casa, acometido por uma bruta dor de cabeça provocada por sua má cheirosa podriqueira intestinal.
No dia seguinte passando pela estrada na parte da tarde La estava ele no rego d’água lavando seu cuecão borrado.
-- Que isso compadre João pegou uma mala de roupa para lavar?
--A danada da miuié diz qui num vai dexá ieu drumi cuela mais nunca, se ieu num lavá minha cueca --, o jeito é lavá!
(Na próxima contarei mais)