Balaio de gatos
O moleque Toniquinho se aproximou de Eleotero muito cheio de dedos. O matuto detestava indiretas e ninguém o aborrecia sem a devida punição:
_ Sô Lotero. Hoje é aniversário de D. Mariinha, a minha catequista.
_ Ah, é? Que bão uai. Cumprimenta ela lá por mim.
_ Tá bão.
O menino continuou ali de pé. Eleotério fingiu estar distraído observando uma gata parida deitada dentro de um balaio debaixo do banco de angico, amamentando uma ninhada de filhotes.
_ Mas, Sô Lotero, é que queria dar a ela um presente.
Menino abestado! Se tivesse pedido um trocado pra comprar uma lembrancinha pra beata ele teria dado, mas indiretas o aborreciam.
_ Faz o seguinte moleque: toda mulher gosta muito de gatos. Leva aqueles filhotes de presente pra ela.
Não é que o moleque gostou da idéia? Foi logo buscar um saco de aniagem. Encheu de gatos e poucos minutos depois saía para o seu compromisso religioso, cabelo penteado, caderno e lápis debaixo do braço e um saco de gatos irritados, rumo ao pequeno salão comunitário.
Uma hora depois estava Eleotério ainda no portão da casa do moleque parolando com seu pai, o Compadre Tonico, pitando um palheiro e discutindo a safra do milho. Entra o menino pisando duro, muito enfezado, carregando o saco de gatos ainda mais irritados:
_ Sô Lotero, ela num gostô não. Viu?