O REVOLVER E A TRAÍRA
"...o que é ruim dura pouco e o que é bom é eterno..."
O Contador de “Causos” é sempre surpreendido com novidades que aparecem “não sei de onde e nem sei quando”. Hoje, Domingo, quando me sentei na frente do computador, para ouvir como de costume, SONS DO MINUANO, na Rádio Universidade de Londrina, de repente ouvi uma voz com sotaque gaúcho contando um “Causo”. Me concentrei e acabei ouvindo até o final. Em vários momentos percebi que não conseguia conter a risada. Não era o conteúdo que tinha tal poder. Era a forma. O palavreado gaúcho cheio de comparações hilariantes. Essa foi a parte mais rica do texto e que infelizmente não poderei reproduzir. Não tenho memória e nem veia humorística para tanto. Vou relatar o “Causo” porque esse é fácil.
Nascemos e fomos criados (meu Avô, meu Pai e Eu) lá pros cafundós de Alegrete. Meu Avô senhor de muitas terras que nunca usava medidas para caracterizar sua extensão. Falava do número de matas ribeirinhas, campos, rios e principalmente do tamanho dos peixes e animais silvestres lá encontrados. E assim naquela rompança que é própria de nossa cultura, garganteava de tudo que tinha e de conquistas em que a coragem e a bravura eram os únicos instrumentos. Certa feita achou que era chegado o momento de passar ao meu Pai (filho primogênito) um revolver “ Chimite uersson 44 “ que soltava fogo por tudo quanto era parafuso quando acionado e tinha feito muito guri metido a homem, recolher as mulas antes de acabar de fazer a carga. Pois bem, para inaugurar o espaço onde carregaria tal apetrecho, foi ele mais meia dúzia de vizinhos empreender uma pescaria de traíras onde as menores eram do tamanho de um bom leitão. Corria o ano de 1 935 e a quantidade de chuva tinha feito os rios bufarem e as lagoas darem nado em qualquer ponto para bois, por mais compridas que fossem suas pernas. Tinha traíra que era tão velha que chegava a ostentar pêlos no vão dos olhos. Ao se ajeitar na beira dum poço, ouviu um ruído para dentro d’agua que mais pareceu uma untanha assustada. Não era. Era a Jóia que havia herdado como símbolo da valentia da família. Entrou na água. Fuçou, varreu , mas nada. Para ele acabou a pescaria. Voltou para casa e nem procurou esquecer o caso porque era impossível.
Nova cheia para se igualar só aconteceu novamente em 1 941 (seis anos depois). Já conformado voltou ao poço para brincar com as enormes traíras que deviam ter crescido mais ainda. Jogou o anzol iscado, que mais parecia gancho de açougue, e já sentiu o beliscão. Fisgou. Um estrondo (Boummm!!!) fez subir espuma misturada com fumaça e outros peixes de pequeno porte boiaram em volta, com a barriga branca para cima. Outro puxão e novamente outro estrondo (Boummm!!!). Puxou para fora. Uma traíra com 13,87 Kg. Há seis anos tinha engolido o revólver quando caiu, e por ser pesado lá ficou. Agora pegou o anzol que foi direitinho enroscar no gatilho, que ao ser puxado duas vezes, abriu-lhe os rombos na barriga, para servir de prova. (oldack12/12/010). Tel. (018) 3362 1477.XXX